A capacidade humana de surpreender

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Um brilhante jornalista costumava dizer, quando acometido do mais puro pessimismo, que nada que era humano já não o surpreendia. Osvaldo Peralva, porém, sempre se mostrava surpreso com a capacidade humana de fazer o bem e o mal. Lembro-me de uma crônica onde, estupefato, narrava a reação de um enorme público à ameaça de suicídio de um desempregado em Recife, creio eu. Ele contava que o homem, do alto de uma torre, ameaçava se jogar. Depois de algum tempo, as pessoas começaram a gritar: “pula, pula”.
Peralva lembrava que, dias antes, toda a nação brasileira, provavelmente também aquelas pessoas, se emocionaram e torceram por uma criança, Monchito, que ficara soterrada depois de um terremoto no México. Ele se perguntava como o ser humano pode ser tão insensível à tragédia vizinha e tão preocupada com uma pessoa distante. Mas isto é outra história. Ou não.
Se vivo estivesse, provavelmente Peralva se surpreenderia com o trabalho desenvolvido por quatro voluntários na Escola Estadual Professor José Monteiro Boa Nova. Eles montaram o Projeto “Fome Zero, Cultura Mil”, por meio do qual preparam estudantes carentes para sua entrada no mercado profissional. Luciano Manoel Alves de Souza, seu filho César Augusto, Reinaldo Ferrari e Mário Sérgio Signori dedicam parte de seu atribulado tempo para ensinar o que aprenderam através de seus trabalhos. Informática, gestão administrativa e financeira, matemática financeira e marketing são algumas das matérias ministradas gratuitamente por eles.
Além de ampliar o atendimento aos estudantes, pretendem também estender os cursos para os pais desempregados. Para isso, no entanto, necessitam de apoio da comunidade. Em primeiro lugar, de outros voluntários que queiram se juntar a eles, inclusive com outras especializações. Também precisam que outras escolas públicas abram suas portas ao projeto, já que a idéia é atender o máximo de alunos possível.
Para não frustrar as expectativas dos jovens, os professores pretendem criar uma Organização Não-Governamental para contatar empresários que queiram empregar os alunos mais dedicados.
Esta talvez seja a maior batalha destes verdadeiros mosqueteiros contemporâneos. Mas como os humanos são mestres em surpreender, quem sabe o projeto não consiga mais adesões que possa prever nossa vã filosofia.

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