Cidadania jogada na caçamba

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Em grandes centros como a cidade de São Paulo, tornou-se rotina, ao longo de décadas, assistirmos o avanço do progresso e da tecnologia sem o indispensável controle e fiscalização do poder público.
Houve um tempo, por exemplo, em que desconhecíamos as vantagens da telefonia móvel. Para que o sistema funcionasse, as operadoras disseram; precisamos construir altas torres que suportem grandes antenas. E assim foi feito. Uma antena aqui, outra acolá. E o que temos hoje? Milhares desses equipamentos espalhados por todos os bairros, na maioria das vezes desrespeitando os parâmetros legais em termos de segurança e urbanismo.
O mesmo vale para as caçambas, outra dor de cabeça para os paulistanos. Houve, sim, um tempo em que nossas ruas nem faziam idéia do que era esse tipo de equipamento. Mas as reformas de nossas casas, de nossos apartamentos ou estabelecimentos comerciais se renderam às facilidades desses depósitos de entulho. E assim, nada demais em ver uma caçamba aqui, outra mais adiante. Resultado: diante da inércia do poder público, pelas ruas da capital espalham-se 25 mil caçambas. Destas, cerca de 40% estão em situação irregular, causando transtornos à população, como mostra a repórter Fernanda Dias em matéria publicada nesta edição.
Ao entrar em contato com o Departamento de Limpeza Urbana, órgão municipal responsável pela fiscalização esse tipo de irregularidade, a jornalista foi informada de que a prefeitura prepara um novo Decreto, cujo objetivo é regulamentar a utilização de caçambas na cidade.
A legislação atual já impõe normas para esse tipo de serviço, assim como acontece com a colocação de antenas de telefonia. Sejam mais ou menos rígidas, as leis já existem. O problema, que já se tornou crônico, é a falta de estrutura fiscalizadora. Os prestadores de serviços pagam para ver. Instalam antenas ou depósitos onde bem entenderem, pois jogam com a hipótese de não serem incomodados pelos agentes fiscalizadores. Via de regra, os apostadores acabam sendo bem sucedidos. E muito simples entender o porquê desse ganho quase líquido e certo. Num espaço de pouco mais de 20 dias, a Secretaria de Serviços comandou uma blitz em conjunto com a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. A operação chegou às Subprefeituras da Lapa, Perus, Santana, Aricanduva/Vila Formosa, Casa Verde, Freguesia do Ó, Vila Maria/Vila Guilherme, Jaçanã/ Tremembé, Penha, Butantã, Jabaquara, Mooca e Ipiranga. Balanço final dessa ação: apenas 174 caçambas foram recolhidas.
E de antena em antena, de caçamba em caçamba, no contexto da ausência de uma efetiva fiscalização, os bairros onde moramos tornam-se terra de ninguém, onde a cidadania, há muito tempo, já virou entulho.

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