Intolerância social

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É extremamente preocupante, do ponto de vista das relações humanas e sociais, a iniciativa de um grupo de moradores da Vila Hamburguesa em fazer circular pelo bairro um abaixo-assinado pedindo à Prefeitura Municipal providências “urgentes quanto à retirada dos invasores (de um imóvel particular) por estarem causando muita sujeira na calçada, acúmulo de lixo dentro e fora dos imóveis invadidos”.
Certo está o Conselho Tutelar da Lapa em propor à sociedade uma reflexão serena sobre essa questão, que envolve o destino de famílias inteiras, inclusive crianças recém-nascidas. É preciso, sim, refletir se tal abaixo-assinado é ou não mais um inequívoco exemplo de intolerância social como os ataques assassinos a moradores de rua nas ruas de grandes cidades, alvo da insanidade de jovens de classe média, dispostos a higienizar a ferro e a fogo – literalmente – o passeio público.
É necessário refletir se o documento em questão tem ou não o ranço do preconceito que toma conta de uma juventude abastada que se diverte ao agredir índios ou empregadas domésticas.
Enfim, torna-se absolutamente prioritário que tenhamos a coragem de responder a uma pergunta básica: que exemplo de humanismo e cidadania queremos dar a nossos filhos quando demonstramos verdadeiro horror e desprezo pelos menos favorecidos, até chegar a um primeiro e perigoso limite que é pedir à Prefeitura que os expulse de nossas vizinhanças?
Seria interessante dialogarmos com o defensor público Carlos Henrique Loureiro. Ouviríamos dele o seguinte, por exemplo. “A responsabilidade da Prefeitura é oferecer moradia digna para todos, ricos ou pobres, mas ela foge deste compromisso”. E mais: “Albergue não é o local indicado para o desenvolvimento da família”. Mas se juntarmos o triste manifesto da exclusão editado na Hamburguesa à saída quase sempre apontada pela Prefeitura, que indica aos moradores de rua o caminho do albergue , chegaremos ao seguinte quadro: famílias invasoras, incluindo aí dois recém-nascidos, serão devolvidas às ruas da região, onde um agente da Assistência Social da Subprefeitura da Lapa mostrará que o melhor lugar para todos é o albergue mais próximo.
Diante deste contexto, uma pergunta final insiste em não se calar: não seria mais sensato ao invés de propor a retirada dos excluídos procurar uma forma efetiva de incluí-los socialmente? Certamente nossos filhos receberiam um digno exemplo.

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