Morador de rua estudou engenharia

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O morador em situação de rua, Carlos Carbo- nel, chamou atenção da advogada Rosana Altafin, durante a decoração da Praça do Marco da Paz, para a realização do Natal Comunitário “Unidos pela Paz”, em dezembro do ano passado.
Ela notou que apesar de morar, na calçada da praça, em uma pequena cabana improvisada, sem o mínimo conforto, Car-bonel era educado e culto.
A história de Carlos Carbonel começa na época da ditadura militar, em 1975, quando ele estudava engenharia na Escola Politécnica da USP, bem antes dele ocupar as calçadas da Praça do Marco da Paz (na Avenida Mercedes).
Carbonel lembra do dia que teve de deixar tudo para trás depois de uma passeata estudantil. “Os pobres que cursavam a faculdade da USP eram reprimidos pela polícia, não podiam estudar”, afirma o morador de rua. “Dezesseis amigos meus desapareceram naquele dia. Tive que fugir para evitar ser mais um”.
Ele conta que viajou muito durante sua fuga dos militares. “Passei por vários Estados brasileiros como Mato Grosso, Bahia e Recife, mas foi em Belém que conheci um jornalista italiano que me ofereceu a oportunidade de ser fotógrafo. Passei a viajar para fazer as matérias. Conheci o Brasil inteiro e até o exterior. Morei na Suiça. Fotografei a Princesa Diana”, revela ele. “Nesta época eu ficava hospedado em hotéis e chegava a ganhar cerca de R$ 3 mil dólares”, afirma o morador de rua, acrescentando que por conta das viagens aprendeu a falar espanhol, italiano, inglês e francês.
Depois de nove anos, retornou ao Brasil e se casou com a namorada que tinha ficado grávida quando ele partiu, em 1975. “Comprei um pônei e passei a fotografar estudantes de escolas públicas, para ganhar dinheiro. Depois veio o plano Collor e meu trabalho fracassou”. Desempregado, Carbonel mergulhou no vício da bebida e perdeu tudo, inclusive a família.
Após a realização da missa campal do Natal, em 9 de dezembro, ele foi retirado da praça pela subprefeitura da Lapa. Desabrigado, Carbonel passou a ocupar a mesma cabana, montada pela comunidade, para abrigar uma imagem santa dos festejos natalinos. O morador de rua permaneceu no local até o último domingo, 6, Dia de Reis, quando os enfeites tiveram que ser retirados. Hoje, ele perambula pelas ruas da Lapa sem destino certo.

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