Pereira Marques: um jornalista crítico e engajado

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“Sem memória, não somos ninguém”. Assim poderíamos recriar o pensamento de José Carlos de Barros de Lima para darmos início, nesta semana, a uma série de reportagens sobre a história das famílias da Lapa e bairros vizinhos.
Para abrir essa seqüência, escolhemos a família Pereira Marques, que tem na figura do patriarca Antonio (*Portugal -1879; + Lapa- 1925) um personagem intimamente ligado à criação do Cemitério da Lapa, em setembro de 1918. “Meu avô chegou ao Brasil em 1889, quando tinha dez anos. Aos onze, já morava com a família na Lapa, na Rua Antonio Fidélis”, lembra Antonio Pereira Marques Sobrinho , neto do imigrante português.
No início do século passado, as oficinas da São Paulo Railway, empresa inglesa que explorava as ferrovias no Brasil, já estavam em pleno funcionamento. Foi lá que o jovem Antônio conseguiu emprego, aos 25 anos, na função de ajudante de escritório. “Depois da jornada de trabalho, ele freqüentava o Grêmio Literário Português – Centro de Estudos de Intelectuais. Em 1910, o vovô deixou o emprego na Editora Pensamento para dedicar-se exclusivamente ao mundo da política regional”, conta Marques Sobrinho.
Foi nesse ambiente político que Antonio conheceu o então prefeito de São Paulo, Washington Luis, que se tornaria presidente da República, tendo sido deposto pela Revolução de 1930. “A Lapa, na época, reivindicava um cemitério. Isso era tema de conversas, debates e até mesmo piadas em diversas rodas da sociedade”, conta outro descendente, Antonio Pereira Marques Neto.
Líder comunitário, esse luso-brasileiro fundaria em 1918 o jornal “O Progresso”, um informativo crítico-noticioso, destinado a defender os interesses da Lapa. Em artigos e depoimentos contundentes, o jornal disparava uma grande campanha em defesa da criação do cemitério, fazendo eco aos anseios da sociedade lapeana, que no Carnaval de 1916 já dava o tom, colocando nas ruas do bairro um carro alegórico com o tema: “Um morto procurando sua cova”.
Com a gripe espanhola se alastrando pela cidade, Marques Neto insistia em suas críticas e conseguiu que o Washington Luis transformasse a área da “Encosta das Goiabeiras” no futuro cemitério, que receberia as vítimas da epidemia. “Como reconhecimento da luta de meu avô, o prefeito decidiu nomeá-lo como o primeiro administrador do cemitério”, conta Antonio Pereira Marques Neto.

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