Refugiados moram na Lapa

0
1245

Foto:

Família mudou-se para o bairro após assistir a guerra

Sorriso nos lábios. Uma mistura de alegria e alívio é o que se vê no rosto de duas estudantes da Escola Estadual Romeu de Moraes: Juliana, 12 anos, e Gabriela Masri, de 10 anos.
Recém chegadas do Líbano, onde moravam desde 2002, as meninas são o centro das atenções na instituição de ensino localizada na Rua Tonelero (Lapa).
Elas são requisitadas nos corredores e questionadas pelos novos colegas sobre os episódios dos bombardeios israelenses sobre a cidade onde moravam até o final de julho, no sul do Líbano. “Eles perguntam como é ver os ataques de perto, se é legal. Eu respondo que não”, relata Juliana, o trauma vivido.
Segundo a diretora da escola, Rosangela Aparecida de Almeida Valim Gonçalves, Gabriela queria saber se podia usar brincos. “Lá a escola é muito diferente e não permite o uso de brincos”, explica a mãe, Margarete Parola, relatando a curiosidade da caçula.
Para se adaptar ao método de ensino brasileiro, as garotas terão de retroceder um ano nos estudos. Juliana de 12 anos que estaria na 8ª série no Líbano, volta para a 7ª série, e Gabriela, que estaria na 6ª série, cursa a 5ª série.
Filhas do brasileiro Gassan Masri, cujo pai tem origens drusas, e da brasileira Margarete, as garotas desembarcaram em São Paulo, no final de julho.
Após quatro anos em solo libanês e depois de assistirem aos horrores dos bombardeios, as meninas, nascidas no Brasil, parecem felizes com o retorno à terra natal.
Depois de deixar tudo para trás, a família está começando tudo de novo. “O primeiro ataque israelense foi no aeroporto, dia 12 de julho. A gente morava em frente”, lembra o pai das estudantes. “As meninas, a Margarete e minha mãe vieram na frente, elas chegaram no dia 27 de julho. Eu vim depois, cheguei no dia 29. Não foi fácil sair de lá”.
Masri lembra que ajudou muita gente sair da linha de bombardeios. “Eu listava os nomes na embaixada, em Damasco, para que as pessoas embarcassem. A prioridade era dada a mulheres e crianças”, explica ele, que foi um dos últimos a voltar para o Brasil, em julho.

Bombardeios

Ele descreve o pesadelo vivido pela família. “Israel estava atacando os pontos de saída, como pontes e estradas. Nós saímos de casa com a bandeira do Brasil na mão. Com medo, colocamos as crianças abaixadas no carro, para que não vissem aquilo. No caminho vimos bomba explodindo e muitos carros e casas destruídas. Só vivendo a situação para saber”, relata ele os últimos dias vividos no Líbano.
Em meio aos bombardeios, a família Masri deixou para trás, imóveis, carros, o comércio que tinha, amigos e familiares, saindo do Líbano apenas com a roupa do corpo, os documentos e passaportes além de 100 dólares cada um. “Lá a gente quase não dormia. Eles avisavam duas horas antes dos bombardeios. Um avião sobrevoava a região e jogava folhetos alertando sobre os ataques, para que as pessoas deixassem suas casa. Só das 5h45 às 10h e das 17h45 às 22h, horário do cessar-fogo, que a gente conseguia comer e descansar”.
Questionado sobre a possibilidade de voltar ao Líbano com o cessar-fogo imposto pela Organização das Nações Unidas, ele disse: não pretendo voltar nunca mais. “Só se for para buscar meu pai”.

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA