Um lapeano na cultura

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A Lapa está representada na cadeira mais alta da cultura da cidade. Nascido na Rua Engenheiro Aubertin (Lapa de Baixo), em 1952, o ator Celso Frateschi é o secretário municipal de cultura desde janeiro. Eclético, interpretou Hamlet, de William Shakespeare, Teatro Jornal, com Augusto Boal, e a tragédia grega Áulis. Na televisão, participou das mini-séries “Memorial de Maria Moura”, “A Muralha”, “Presença de Anita”. Também integrou o elenco da novela “O Beijo do Vampiro”, da Rede Globo.
Como secretário, tem a função de criar o sistema municipal e melhorar e criar os espaços culturais em São Paulo, além de ser o encarregado pelos cursos de iniciação artística e oficinas culturais dos Centros de Educação Unificados (CEUs), um dos projetos da administração municipal.
A origem de Frateschi remonta a Lapa de Baixo. Sua família trabalhava numa olaria para construção de tijolos, que seriam destinados às casas dos novos moradores do bairro. Os seus bisavós, conhecidos como os Cavaton, tinham negócios com cerâmica. “Tínhamos um forno de barro, onde fazíamos os materiais necessários para a construção civil”, conta.
Frateschi diz que onde morava era comum alagar nas épocas de chuva, por causa das famosas cheias da várzea do Rio Tietê. “Depois que o rio foi retificado, as inundações terminaram”, descreve. Na década de 50, era comum os moradores da Lapa de Baixo passarem por uma porteira, que ligava a parte alta da área baixa do bairro. Esta passagem ficava em frente aos trilhos do trem.
Frateschi estudou o primário no Colégio Anhangüera e no Pereira Barreto. O ginásio, ele cursou no Campos Salles. O 1º Ano Clássico, como se chamava na época, o lapeano fez na Escola Alexandre Von Humboldt. “Em 1967, eu era presidente do Grêmio Estudantil do Alexandre. Como estávamos na ditadura, e eu era um agitador cultural, fui expulso e não pude mais estudar em nenhum colégio estadual”, narra o ator.
Nesta mesma época, Frateschi começou a fazer parte do Movimento Cultural da Zona Oeste, um grupo de 15 pessoas preocupadas em transmitir cultura engajada politicamente na região. Eles exibiam filmes do Cinema Novo, de Gláuber Rocha e de Nelson Pereira dos Santos, no Cine Tropical, que ficava na Rua Roma. Também fazia apresentações no Teatro da Biblioteca Francisco Pati. O grupo ainda freqüentava o Teatro de Arena, de Augusto Boal, e o Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa. “Conhecer pessoas como Renato Borghi, Fernando Peixoto, Roberto Lage, além de Boal e Zé Celso, foi muito importante na carreira”, explica.
Nos anos de 1968 e 1969, com Lage, Frateschi foi um dos integrantes do Grupo de Teatro Amanhã. No Arena, ele se engajou na proposta libertária de Boal. Por causa da agitação cultural, o lapeano foi preso pela repressão, pela primeira vez, quando tinha 17 anos. Por ser menor de idade, foi solto após três semanas. Junto com seu irmão Paulo Frateschi, foi novamente para a cadeia em 1973 por causa da peça “Queda da Bastilha”, uma obra que questionava a ditadura militar no Brasil (1964-1985). A polícia libertou o ator quinze dias depois. “Mesmo tendo sido preso e perseguido por fazer parte da ala vermelha do Partido Comunista do Brasil (PC do B), não troco este período por nada. Foi uma época rica em significados e mudança de mentalidade. Nós aprendemos muito”, finalizou.

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