Memória e comunidade

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No feriado da Proclamação da República, 15 de novembro, o ato cívico promovido pelo presidente do Conselho das Associações Amigos de Bairro da Região da Lapa (Consabs), José Benedito Boneli Morelli, recuperou, simbolicamente, as sementes do associativismo regional.
A inauguração no Memorial do Consabs, erguido num jardim do Cemitério da Lapa, com um espaço destacando a figura de Homens que Fizeram a Lapa é uma justa homenagem aos líderes comunitários já falecidos.
A propósito desta iniciativa vale destacar aqui o pensamento da professora Ecléa Bosi, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. “A memória opera com grande liberdade escolhendo acontecimentos no espaço e no tempo, não arbitrariamente mas porque se relacionam através de índices comuns. São configurações mais intensas quando sobre elas incide o brilho de um significado coletivo”.
A docente da USP escreveu essa reflexão em 2003, mas parece que ela estava presente no ato cívico do Consabs da última segunda-feira. Ao explicar as razões da singela homenagem, Boneli buscou no tempo fatos marcantes da história dos bairros da gente, rememorando, por exemplo, a construção de escolas, do Clube Pelezão e de equipamentos na área da saúde. Enfim, uma série de conquistas sobre as quais a brilha a luz do trabalho coletivo e da luta comunitária.
Diz ainda Ecléa Bosi, num texto de 1994, “que na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho”. As lideranças comunitárias que compareceram ao ato cívico do Consabs e mesmo aquelas que não puderam, por algum motivo, presenciar o referido evento saberão, facilmente, interpretar esse pensamento. Afinal, o que é a atual luta da Associação Amigos de Vila Ipojuca pela construção de uma AMA a não ser o trabalho que toma por base batalhas do passado, todas elas bem sucedidas, onde foram sustentadas bandeiras pela implantação dos primeiros equipamentos públicos num bairro que se urbanizava e se transformava?
Leonildo Siragna, presidente da entidade, ao se lançar, décadas atrás, numa ação reivindicatória tinha mais facilidades de dialogar diretamente com os governantes (prefeitos e governadores). Hoje, o líder comunitário da Ipojuca, repensando idéias, sabe que o caminho a ser trilhado é outro, com o diálogo passando por uma Audiência Pública na Câmara Municipal sobre o orçamento da Prefeitura para 2011. Foi na sede do Legislativo, que ele protocolou, em nome de toda comunidade, o pedido de construção de um novo equipamento de saúde no bairro.
A professora Ecléa também nos ensina que a memória não reconstrói o tempo mas também não é capaz de anulá-lo. Apenas faz cair a barreira que separa o presente do passado. O evento do Memorial do Consabs, ao unir o ontem e hoje comunitários, reforçou a marca registrada desta região da cidade chamada Subprefeitura da Lapa: a força do associativismo de bairro, orgulho da gente.

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