Eu e o meu Brasil, de 36 a 40!

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Nereu Mello

Aí por volta de 1936, meu pai abriu uma lenhadora. Um bom negócio, porque os fogões eram a lenha e Ribeirão Preto estava cercado de bosques de madeira para corte. Só tia Anita tinha fogão a carvão e era luxo.

Em 37 entrei para o 2º grupo escolar e aprendi a ler. Quando eu compreendi a magia da leitura, houve um clarão na minha cabeça que, até hoje, me espanta e me maravilha. Meu Deus, saber ler é o maior dos tesouros!

Bem, enquanto eu lidava com o Primeiro Livro de Leitura, de Erasmo Braga, o Dr. Getúlio escrevia uma nova Constituição e instalava o seu “Estado Novo”. Em 39, Hitler invadia a Polônia e estourava a guerra na Europa. Durante dois anos nada se lhe antepunha, a não ser a Inglaterra, com os seus Spitfires.

Em 40, tirei o diploma do grupo escolar e eu queria ir para o ginásio; mas, como? Eu era pobre e pobre não virava doutor. Só menino rico podia fazer o ginásio e ir para a Faculdade. Filho de pedreiro, seria pedreiro. Meu pai impugnou: “o primário basta, eu não tive nem isso”. E me sonegou os livros e cadernos. Minha mãe, não. Ela sabia o valor de estudar, apesar de ter tido apenas três meses de escola. Eu tinha passado no exame de admissão, em segundo lugar. Nessa altura, ela dava pensão de marmitas e, então, ela me pegou pelo braço e fomos à casa do diretor do ginásio: “O senhor come de pensão, dá descanso para sua mulher e desconta a mensalidade do meu filho”. Assim foi.

Quanta marmita carregamos! Quando chovia, minha mãe pegava um saco de estopa, metia uma ponta dentro da outra e aí tínhamos a capa para nós e as marmitas. Aos trovões e relâmpagos, a Wilma dizia: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Repete, Nerito!” E lá íamos, pingando chuva a entregar as marmitas. Ao voltar, banho no bacião com água quente e as mãos adoradas da minha mãe…(Ah!).

Depois, janta e cama e chuva no telhado!

Nesse ano de 40, Roosevelt visitou Getúlio, conseguiu a base naval no Rio Grande do Norte e emprestou-nos dinheiro para a grande Siderúrgica de Volta Redonda! O Brasil acordava do subdesenvolvimento.

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