O ginásio é pouco…

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Terminado o Ginásio, achei emprego numa livraria! Alegria enorme: lidar com livros, o que eu amava. No dia 2 de janeiro de 1945, cheguei cedo à livraria e o dono disse: “Nereu, todos os dias, ao chegar, você pega esta lata, enche d’água, pega este rodo e pano e limpa direitinho o chão da loja. Depois disso, você pega este pano de pó e limpa tudo cuidadosamente. À tarde, a mesma coisa…” Ninguém pode aquilatar o que foram aquelas ordens para um ginasiano…: de que valeram tantos esforços e tantos sacrifícios? Para limpar chão, eu não precisava do ginásio… mas aguentei firme o combate! Fiz tudo, como era preciso. Fiz além. Ao limpar os livros eu os ficava conhecendo um pouco. Desempacotar os livros que vinham pelo correio era uma alegria! Ah!
Minha mãe viu a minha desilusão e disse: Você está em provação. Mas, Deus prova e Deus provê! Seja humilde e faça o trabalho com amor!
Trabalhei janeiro e fevereiro e, muitas vezes, ao passar o pano no chão, tinha que pedir licença aos fregueses, à frente das estantes de livros: eram pés conhecidos, eram os pés dos professores do Ginásio.
Com o que eu ganhei na livraria, paguei a taxa de inscrição e entrei no 1º Ano do Colégio Estadual, Curso Clássico!
Poucos dias depois, ao voltar à tarde, do Colégio, minha mãe me disse: “Arranjei uma aluna para você. Admissão ao Ginásio. Sessenta cruzeiros por mês, aulas diárias das 10 às 11:30.” Eu tremi: como? Eu, professor? Com 15 anos? Sim, virei professor. Estudava até altas horas para dar a aula do dia seguinte. Eu me entusiasmava e isso ia para a aluna. Um sucesso! Um aluno seguiu-se a outro. Logo eu era conhecido e chamado para ensinar em casa. E ganhava por aula dada: um bom dinheirinho!
 O Ginásio era demais para lavar chão, mas foi o salto para o destino da minha vida! Minha mãe tinha razão: fui provado, mas fui provido! Eu estava no caminho da vida. Oh! Meu Brasil, eu estava vivendo a realidade do “querer é poder!” “Hei de vencer!”.

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