Tempos ruins

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É muito melhor escrever um texto celebrando iniciativas positivas, comemorando algum ganho da comunidade ou simplesmente com a leveza de uma boa notícia. Mas isso está cada vez mais raro. Os problemas se sobrepõem sem que tenhamos tempo de processar uma informação ruim, já que outra logo surge. Temos um governo que comemora a alta de 1% no PIB como uma grande vitória, como se o poder de compra da maioria da população não estivesse prejudicado, como se a inflação não aumentasse o preço de praticamente tudo.

E temos uma violência que é endêmica, mas que cabe mencionar algumas de suas variações. O crime mais grave sempre será aquele que afeta a integridade física de uma pessoa. O que vemos no Recife, com mortes em decorrência das chuvas não deixa de ser uma violência social. A causa pode ser natural em sua origem, mas a falta de investimentos estruturais que poderiam evitar as fatalidades são responsabilidade de alguém, de várias pessoas, por muitos anos, que não conduziram as políticas necessárias.

A falta de empenho em questões complexas é sim uma violência, mas talvez não tão hedionda, que causa repulsa como um crime sexual. Essa semana vimos a prisão de um homem que estuprou jovens no entorno do metrô Sumaré. O caso gerou grande comoção entre vizinhos, usuários do transporte público e moradores da região que não mediram esforços para encontrar pistas e auxiliar como podiam as duas polícias, civil e militar. Por mais que as ocorrências tenham durado minutos e que as vítimas estejam vivas, ninguém deveria passar por uma experiência tão absurda. Não é algo fácil de se esquecer.

Outra violência é aquela motivada por interesses particulares que tentam se impor sobre os coletivos. Nada mais injusto do que ter sua casa, seu lugar de descanso, prejudicada pela operação de uma cozinha industrial, com fumaça e barulho sem nenhuma forma de mitigação. A lei para regular essa atividade deveria ter sido discutida de forma muito mais célere. E infelizmente sabemos que ter a lei nem sempre é sinônimo de paz. Precisaríamos de garantia e eficiência na fiscalização, algo que não vemos em outras atividades já regulamentadas como as obras de construção civil. Claro que em um segmento de trabalho sempre vão existir aqueles que prestam um serviço seguindo boas práticas e outros que acham que têm o direito de incomodar, que só pensam em seu benefício e que talvez nem se importem de pagar uma multa.

Vivemos tempos difíceis, sem previsão de melhorar se não tivermos o empenho de todos para acabar com essas violências cotidianas.

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