A PM e miséria

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Um diálogo aberto e sincero entre o Jornal da Gente e um membro da Polícia Militar revela algo surpreendente: o alcance da visão social da PM paulista está anos luz à frente das políticas assistenciais da Prefeitura de São Paulo.
Diante do quadro da exclusão social dos moradores de rua e da população que vive em subhabitações na região da Leopoldina, o policial pergunta: será que não existe algo que as instituições locais (Ceagesp, Correios, Sesi, Senai etc) possam fazer para ajudar na solução desse problema?
A pergunta feita por um profissional da área da segurança pública faz sentido e merece reflexão. Segundo o policial militar, o índice de furtos na região subiu 70% comparando-se determinado período de 2006 com 2007. A PM informa, também, que é comum encontrar entre carroceiros objetos de valor circulando de um ponto a outro do bairro. Essa observação, no entanto, não pode caminhar para a generalização a ponto de chegar à inaceitável afirmação de que todo o carroceiro é bandido. Isso não é verdade. Como não é verdade que todo morador de rua se for incluído num programa de casa própria irá “vender” o imóvel e voltar para debaixo da ponte.
Enquanto a subprefeitura comandava uma operação limpeza na Leopoldina, retirando os moradores de rua da região – oferecendo em troca basicamente o albergue mais próximo – a visão humana e humanística do policial militar nos coloca – como sociedade organizada – numa grande e verdadeira berlinda. Será que não podemos fazer algo para incluir socialmente essa gente abandonada à própria sorte? Será que a direção do maior entreposto de alimentos da América Latina não tem o que dizer sobre o problema dos caixeiros sem rumo? Será que no “Sistema S” da indústria paulista não existe uma experiência de assistência social a ser implantada na região da Leopoldina, ou mesmo no Jaguaré e Lapa onde em alguns locais existem cenários semelhantes? Será que a maior diretoria regional dos Correios em todo o Brasil não tem como se engajar numa corrente de inclusão? E a OAB-Lapa, os advogados da Lapa, os Rotarys Clubs, as Associações, as Universidades não poderiam juntar forças?
Nós, moradores, empresários ou trabalhadores dos bairros da região nos sentimos acuados diante da violência. Só que continuamos a ignorar que ela tem relação direta com os bolsões de miséria aos quais damos as costas. Até quando persistiremos nesse erro?

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