Eduardo Fiora
Comunidades em movimento costumam gerar ações e demandas sobre as quais torna-se imprescindível o olhar atento do poder público, que para atuar com legitimidade precisa governar no interesse de todos.
No Jaguaré, os moradores se mobilizam e esperam por intervenções conjuntas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, chamadas a reverter o clima de insegurança da região. Situação semelhante vive a comunidade da Vila Leopoldina e entorno, que espera poder voltar a dialogar com as esferas púbicas, depois da indicação da nova diretoria do Conseg do bairro, que voltou a funcionar depois de meses de impasse legal.
Mas é na Lapa, que a interação entre a administração pública e população passa por uma verdadeira prova de fogo. De um lado é possível apontar, positivamente, o fato de o início da revitalização da Rua Doze de Outubro ter ocorrido sem nenhum tipo de confronto entre os ambulantes e policiais, ao contrário do que se registrou na região do Brás, no mês de agosto. Todos sairam ganhando: camelôs, lojistas e a população em geral.
Porém, na mesma semana, a Subprefeitura da Lapa dava sinais de não enxergar, com a devida clareza, um outro horizonte plural: o associativismo. Há décadas, as comunidades lapeanas se unem, por ocasião dos festejos de aniversário do bairro, para organizar um calendário único de eventos. Desse trabalho coletivo nasce uma festa singular, envolvendo diversas gerações. Por essa singularidade e pela força simbólica que carrega consigo, esse calendário deveria ser reconhecido pela administração pública municipal em todos os seus níveis, a começar por aquele mais próximo da população: justamente a sua subprefeitura. Esta, no entanto, parece não levar em conta o cronograma já em andamento, a ponto de sugerir a formação de uma outra comissão organizadora. Tal posicionamento surge como antítese ao bem sucedido episódio da revitalização do centro comercial. O coletivo, desta vez, fica em segundo plano, numa total inversão do modo legítimo e correto de conduzir a “res publica”.
Se com ações como a da “Doze”, o poder público aproxima-se, de fato, da comunidade, a idéia da organização de um calendário paralelo criaria apenas pontos de atrito, distanciando-se do verdadeiro espírito dos festejos de aniversário do bairro: a celebração da amizade.