Na clássica história infantil, o garoto Peter Pan, recusando-se a crescer, envereda-se por uma fantástica viagem à Terra do Nunca. No campo do inconsciente, o psicólogo americano Dan Kiley ousou fazer um paralelo entre as aventuras do personagem e a vida contemporânea, o que resultou na edição de um bem sucedido livro de auto-ajuda intitulado A Síndrome de Peter Pan.
Para Kiley, a recusa em crescer do personagem mantém relação direta com uma estratégia de fuga dos penosos compromissos impostos pela dura realidade da vida adulta. Há um consenso entre os psicanalistas que quanto antes é descoberta a ocorrência dessa síndrome, mais fácil é a recuperação do paciente, mediante uma competente psicoterapia.
Acreditando-se nesse receituário é bem provável que a diretoria da Fundação do Bem Estar do Menor (Febem) tenha enormes dificuldades em se livrar da Síndrome de Peter Pan – a instituiçõ já ultrapassou os 30 anos de idade –, embora não faltem bons divãs na Leopoldina, bairro que a instituição elegeu para ser palco de uma eterna brincadeira de criança: o esconde-esconde.
Tudo parece ser motivo de ocul-tação para os dirigentes da Febem. Em setembro, no primeiro ato pueril desse triste teatro, autorizaram a transferência para a unidade Leopoldina de 75 menores, sem tornar público o início do funcionamento do novo complexo, que ainda está em obras. Na seqüência, sem o conhecimento do corregedor da instituição, ordenaram que os internos ficassem em regime de clausura.
Quando a imprensa tornou pública a brincadeirinha do esconde-esconde na Vila Leopoldina, a Febem se recusou a sair do jogo. Desta vez, insistiu em esconder o nome e o perfil da diretora da nova unidade, ao mesmo tempo em que se recusava a passar informações sobre a formação do Conselho Gestor do novo complexo, algo previsto em lei.
Dan Kiley mostra que uma mar-cante característica da Síndrome de Peter Pan é a fuga da realidade e do compromisso. Ocorre aqui avaliar se com seus onze anos de idade, o Conselho Comunitário de Segurança do bairro (Conseg) é também vítima de tais sintomas. Em nenhum momento, desde que a imprensa tornou pública a infeliz brincadeira do pique-esconde da Febem, o Conseg Leopoldina chamou a comunidade para debater essa preocupante situação. Como se vê, não é apenas a Fundação que precisa da imediata ajuda de um divã.