Memória como legado

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A idéia já vinha sendo amadurecida nos bastidores da redação do JG: criar uma seção dedicada ao resgate da história de famílias e personagens da Lapa e região, para lembrar o legado dessa gente.
O ato final das reflexões que fizemos internamente veio depois de presenciarmos a homenagem do Conselho das Associações Amigos de Bairro da Lapa e Região a diversas famílias na sessão Solene da Câmara Municipal, no contexto dos 417 anos da Lapa. A riqueza das realizações de homens e mulheres em favor das comunidades, relembradas pelo cerimonial, foi decisiva para que tomássemos a decisão de publicar, semanalmente, Álbum de Família, a mais nova seção do Jornal da Gente.
Ela nasce com base na reflexão da vida cotidiana e na leitura acadêmica, onde se sobressai o texto de uma das mais respeitadas figuras da intelectualidade brasileira, a psicóloga social Ecléa Bosi. “Cada geração tem, de sua cidade, a memória de acontecimentos que são pontos de amarração de sua história. O caudal de lembranças, correndo sobre o mesmo leito, guarda episódios notáveis que já ouvimos muitas vezes de nossos avós. Mas a memória rema contra a maré; o meio urbano afasta as pessoas que já não se visitam, faltam os companheiros que sustentavam as lembranças e já se dispersaram. Daí a importância da coletividade no suporte da memória.
(…) Percebemos que os bairros têm não só uma fisionomia como uma biografia. O bairro tem sua infância, juventude, velhice. Esta, como a das árvores, é a quadra mais bela, uma vez que sua memória se constituiu.
(…) Quando a fisionomia do bairro adquire, graças ao trabalho ingente (enorme) dos moradores, um contorno humano, ele se valoriza.
Vêm as imobiliárias e compram uma casa, depois outra, o quarteirão. Os vizinhos se reúnem, querem resistir: os edifícios altos esmagam sua moradia, roubam-lhes o sol, a luz, o horizonte.
As quadras são arrasadas, os velhos acuados. (…) Mudança e morte se equivalem para o idoso. Será possível que uma empresa imobiliária possa reger destinos, dispersar e desenraizar centenas de pessoas?
Recuperar a dimensão humana do espaço é um problema político dos mais urgentes.

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