Para a faculdade, meu País

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03 de Janeiro de 1948: noite inesquecível! Minha mãe arrumava a malinha de papelão: meias bem remendadas, três cuecas, três camisas de algodãozinho alvejado, uma calça branca de brim. No corpo um terno puído de casimira azul marinho, que fora do meu irmão. Um dicionário de latim, gramática expositiva, livros didáticos de francês… Mamãe chorava. Eu também. Aí, eu disse: “não chore. Eu não vou. Fico em Ribeirão e vou ser dentista ou farmacêutico”, (únicas faculdades ali existentes).
 Minha mãe olhou para mim, como se fosse uma grande águia no alto da montanha:
 _ “Ah! Não, agora você vai de qualquer jeito. Você será Advogado. O resto Deus proverá!”
 E a águia-mãe empurrou o jovem águia, de asas emplumando, para a grande aventura pela amplidão dos céus!…
 No abraço chorado de minha mãe terminava o primeiro movimento da sinfonia da minha vida. 18 anos de formação para os combates que não tardariam.
 No dia 4, à tarde, chegamos à Estação da Luz, sem neblina, nem chuvisco: sol e esperança. Meu irmão Lolo veio comigo para me ajudar nos primeiros compassos do segundo movimento sinfônico que eu estava compondo para a minha existência neste Brasil abençoado e amigo.
 Passei no vestibular duríssimo e já cursava o 1º ano da Faculdade quando o Exército me chamou para servir; mas eu não podia… Fui ao quartel e me deram adiamento de incorporação para o CPOR, a começar em 1950… A orquestra explodia em sons, com dissonâncias aqui e ali nem sequer sonhadas, mas eu ganhava um fôlego e podia sair do “vivace molto” para um “andante presto”: eu tinha dois anos para dominar cordas, madeiras e percussão, em busca de harmonias que se desfaziam em novos descompassos, riscados e esquecidos.
 Alunos! Alunos! Eu precisava de alunos! E eles vieram e salvaram o meu batel no mar tempestuoso da minha juventude…

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