Esta semana a reunião do Fórum Social da Vila Leopoldina teve a participação de religiosos, entidades, representantes de órgãos públicos (como Secretaria de Assistência Social, Saúde e Direitos Humanos) e de dona Cleuza, uma moradora de barracos improvisados na calçada da Rua Hassib Mofarrej. Ela chegou ao encontro com a irmã Rosa, filha e sobrinha na noite de terça-feira. Permaneceu até o fim, ouviu todo o debate sobre as operações de limpeza realizadas pela GCM (Guarda Civil metropolitana) e a Subprefeitura nas calçadas do bairro e da vigilância contratada pela Associação Viva Leopoldina para manter as calçadas livres e seguras para os pedestres.
Um dos problemas apontados pelos organizadores do fórum foi que as ações expulsam as pessoas das calçadas, afastando o morador de rua para longe. Mas, foi dito também que o Fórum Social não defende a permanência das pessoas na rua, defende uma retirada digna. É isso que dona Cleuza busca há 13 anos, ser atendida com uma casa no programa da Prefeitura para viver com dignidade. Ela ouviu a confirmação da implantação do Programa Braços Abertos no bairro. O Braços Abertos é voltado ao atendimento de dependentes químicos moradores de rua usuários de crack. Segundo a própria Cleuza, não é o caso de sua família.
O vigário do povo de rua da Arquidiocese de São Paulo, Padre Júlio Lancellotti disse que é importante a participação e depoimentos como o de dona Cleuza. O religioso reclamou que o Braços Abertos não ouviu a população de rua. “Como não sabemos as respostas deles, nós inventamos projetos e respostas. Quando nós não sabemos o que fazer, tiramos da frente porque não somos capazes de ouvir o que eles querem”.
Dona Cleuza faz parte do grupo que não é ouvido. Com um semblante sofrido, a mulher conta que não teve opção. Foi para a rua depois de ser enganada por um espertalhão de quem comprou um terreno, construiu uma casa e antes de concluir o acabamento, o dono apareceu e teve que sair. Ficou sem o teto e foi parar na calçada da Rua Hassib Mofarrej, na Leopoldina. Lá está 13 anos.
Acompanhada da irmã, sobrinha e filha, hoje ela vê o tempo passar da porta do barraco. E a família cresce. Uma de suas filhas foi morar com o namorado e saiu da calçada, a outra está grávida de hora em hora para dar a luz. Desde que chegou à Leopoldina, diz ela, que recebeu um agente da Prefeitura que fez o cadastro para habitação. Até hoje dona Cleuza perambula pelos órgãos municipais a cada sinal de que pode receber a moradia. Sonho que mantém vivo.
Com o herdeiro que está por vir, sua família chega a terceira geração na calçada. A Secretaria Municipal de Assistência Social informou que na próxima semana uma agente vai acompanhar dona Cleuza até a Habitação (secretaria) para levantar seu cadastro (para moradia). Se não tiver, prometem fazer. A esperança é que o herdeiro de dona Cleuza traga sorte e tenha uma vida melhor, fora da calçada.