Tendal democrático

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A cultura pode não ter recursos, mas tem muita discussão. Essa semana, artistas e coletivos se reuniram no Tendal da Lapa, para discutir com a nova coordenadora, Bel Toledo, a ocupação dos 6 mil metros quadrados do espaço. Com origem no circo, a nova coordenadora assumiu o cargo há cerca de dez dias. Depois disso, o Tendal recebeu a instalação de equipamentos para atividades circenses. Em redes sociais, representantes de coletivos atacaram a coordenadora, indicada para o cargo pelo secretário de Cultura, André Sturm, acusada de falta de diálogo com aqueles que atuam no Tendal (voluntários e oficineiros).

Desde o seu início como “Fábrica de Sonhos”, primeiro nome que recebeu, o Tendal sempre teve como característica uma programação diversificada. O espaço foi oficializado como Casa de Cultura em dezembro de 1992 e tombado pelo Patrimônio Histórico em 30 de junho de 2007. Após completar 27 anos de atividades virou Centro Cultural em 2016. É necessário preservá-lo.

O espaço virou referência na formação, reflexão, produção e fruição da diversidade cultural da região e de São Paulo. O Tendal é um verdadeiro laboratório de experimentos que a cada mudança de direção ganha novos e acalorados debates sobre sua ocupação. A verdade é que o sonho da maioria dos artistas é ter um espaço no Tendal. O núcleo de formação circense anunciado pela nova coordenadora é bem vindo, desde que as outras linguagens artísticas permaneçam, já que essa é a característica do centro cultural.

Bel Toledo enfatizou que o Tendal “vai aprofundar a sua vocação e voltar à origem, que é a arte circense em todas as suas formas, tornando-se um centro de qualificação e aprimoramento no qual grupos selecionados por meio de um edital, farão residência artística, trocando saberes e informações para contribuir para aperfeiçoamento tanto do circo quanto do próprio espaço”.

Mas ela também esclareceu que outras linguagens como música, teatro, dança e artes visuais também farão parte da oferta cultural do espaço. O que, de certa forma, tranquilizou os representantes de coletivos.

O Tendal da Lapa ainda será tema de muitos debates. Até porque ele é uma conquista histórica que começou em 1989 a partir do “Grupo Teatro Pequeno”, que promoveu uma verdadeira invasão cultural no antigo prédio do entreposto de carnes da região, o Tendal da Lapa. Daí seu nome. Foi numa tenda que aconteceram as primeiras atividades, com o circo e o teatro como linguagens mais fortes. Depois surgiram outras, chegando ao universo de possibilidades culturais de hoje, que precisa ser respeitado.

O Tendal sempre foi democrático, mas para mantê-lo é preciso que tanto a nova gestora quanto os coletivos mantenham o diálogo para preservar o espaço que quase virou a sede do Poupatempo, e só permanece vivo por causa do movimento de resistência de artistas. Sem dúvida, é possível ter todas as possibilidades de produção cultural no espaço. Como disse a coordenadora Bel Toledo: o Tendal não tem dono. O Tendal é um espaço de diversidade cultural, de todos, mas sem recursos, sem diálogo e a colaboração, ele pode não sobreviver aos ruídos de comunicação e falta de recursos.

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