É curioso que em um país com tantos partidos, com uma pluralidade de discursos, os debates acabem sempre caindo em dois lados opostos, uma dicotomia inevitável.
Uma gestão sempre critica a anterior e passa-se mais tempo tentando deixar uma marca da sua administração do que de fato implementando um bom trabalho. Infelizmente quando elegemos um político, no caso das pessoas que realmente procuram conhecer a proposta de governo e projetos da chapa, não podemos prever quem serão as pessoas indicadas pelo eleito, muito menos as que serão escolhidas por esses indicados para postos locais ou regionais, que têm um impacto até maior na nossa vida.
Já que o país, o estado, a cidade e a máquina pública são todos muito grandes, repartir a administração é de fato necessário, de forma que os responsáveis por cada área ou projeto possa se dedicar melhor ao trabalho. No ímpeto de tornar essa construção mais democrática, criam-se conselhos de participação popular. Os mecanismos de representação são sem dúvida muito importantes, mas é fundamental que esses conselhos sejam de fato ouvidos e tenham voz ativa nas discussões de que fazem parte. Porque caso isso não ocorra, trata-se apenas de um faz de conta, um falso dispositivo democrático.
É ao mesmo tempo triste e bonito ver as pessoas que dedicam seu tempo livre e sua voz para participar de reuniões muitas vezes longe de casa, com o objetivo de conquistar alguma melhoria. A semana começou com a eleição do novo grupo de gestão da Operação Urbana Consorciada Água Branca, que há anos é esperada para a região, ainda mais por ter algo que está em falta em todo lugar: dinheiro para as melhorias. E na mesma semana que se elegeu o conselho, o Projeto de Lei da OUCAB foi enviado para apreciação na Câmara, apesar das diversas manifestações contrárias à revisão do PL por parte do conselho. Agora a população interessada deverá reunir mais esforços para convencer os vereadores a aprovarem o PL da melhor maneira e, após muitos anos, ver aquilo que foi prometido sair do papel.
Da mesma forma, na próxima semana a administração do Tendal da Lapa se reúne com um grupo de moradores e oficineiros para tentar chegar a um denominador comum sobre o uso do espaço. Que haja empenho de ambos os lados para entrar em consenso, porque se isso não ocorrer, a promessa é de mais manifestações como a que aconteceu na quinta-feira (9). E com grupos da situação, oposição, conselhos e manifestantes que seguimos com a nossa jovem democracia. Que o resultado de outubro permita que ela evolua ainda mais.