A Rede Nossa São Paulo apresentou na terça-feira (5) o Mapa da Desigualdade 2019, estudo que é feito desde 2012 e neste ano utilizou 53 indicadores para apontar as diferenças nos 96 distritos da capital paulista em 2018. Entre os dados avaliados estão a violência contra a mulher, violência homofóbica e transfóbica, racismo, educação, saúde, cultura, habitação e idade média ao morrer, que aponta grandes diferenças na cidade como o fato de em Moema a idade média ser 80,57 anos e Cidade Tiradentes 57,31, ou seja, mais de vinte anos de diferença entre os dois distritos. A idade média ao morrer na Lapa é 78,13 anos, 78 anos em Perdizes, 74,71 na Vila Leopoldina, 73,67 na Barra Funda, 68,85 na Vila Jaguara e 67,99 no Jaguaré. Este ano, foi demonstrado que os feminicídios aumentaram 167% em toda a cidade, e as ocorrências de violência 51%, sendo que os distritos da Sé e Barra Funda concentraram as maiores taxas de ocorrências.
A Barra Funda também teve destaque em outros indicadores, como acidentes de trânsito com vítimas, em uma proporção de 54,6 ocorrências para cada dez mil habitantes, e 323,9 acidentes de motocicleta para cada cem mil habitantes. Um dado positivo foi o fato de que o bairro concentra a maior taxa de emprego formal, enquanto Cidade Tiradentes teve o pior desempenho. Além da Barra Funda, outro distrito da Lapa que teve destaque no estudo foi a Vila Jaguara, como o melhor índice de diferença salarial entre homens e mulheres, com valores mais próximos em todos os setores.
Foram apresentados dados alarmantes sobre o acesso à cultura e lazer, sendo que 23 distritos não possuem nenhum equipamento público de cultura, 47 não têm museus, 54 não têm cinemas e 11 não possuem equipamentos públicos de esporte. As análises de cultura foram feitas com dados de 2017, já que a Secretaria Municipal de Cultura não enviou os dados atualizados para a Rede Nossa São Paulo. Na parte da saúde, 18 distritos não contam com leitos hospitalares. No geral, em 20 indicadores a desigualdade aumentou, em 15 diminuiu e em 2 se manteve.
Após a apresentação dos dados foi realizada uma roda de conversa com Jorge Abraão, coordenador da Rede Nossa São Paulo, Jô Pereira, diretora da Ciclocidade, Luciana Royer, professora da disciplina de planejamento urbano da FAU/USP, e Márcio Black, cientista político, produtor cultural e coordenador da Fundação Tide Setubal. “Esse mapa serve para rever os dados da cidade no período de um ano para que a população consiga cobrar melhorias. A solução dos problemas passa por uma governança mais participativa”, declarou Jorge Abraão.
Outros temas do debate foram o fato da Prefeitura ter arrecadado R$ 9 bilhões de IPTU em 2018, valor que não é gasto de forma a reduzir a desigualdade sócio-espacial na cidade, a dificuldade que a população periférica tem para se locomover diariamente e o tempo gasto para acessar as regiões centrais, reduzindo o acesso à cultura e mercado de trabalho, e a falta de transparência dos órgãos públicos ao divulgar dados, que deveriam ser de fácil acesso e regionalizados para que todos pudessem acompanhar.
Outros dados
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que a área verde por habitante seja de 12 m², e o território da Subprefeitura Lapa conta com uma média de 11,04 m². A Barra Funda ficou entre os cinco distritos que mais emitem poluentes atmosféricos e é o terceiro em casos de mortalidade por doenças do aparelho respiratório. A Lapa ficou em primeiro lugar em mortes por câncer, com uma proporção de 220,69 casos para 100 mil habitantes. O tempo médio para agendar consultas com um clínico-geral é de 12,08 dias na Lapa e 48,61 dias em Perdizes.
Perdizes foi o penúltimo distrito em casos de violência contra a mulher, com 112,4 ocorrências para cada dez mil mulheres, entre 20 e 59 anos. Já a Barra Funda ficou em segundo lugar, com a proporção de 651,5 casos.
Em relação às creches, a Lapa está entre os cinco piores distritos na proporção de matrículas efetuadas e total de inscritos.
Sobre equipamentos públicos de cultura, Barra Funda ficou em segundo lugar e Lapa em oitavo lugar, entre os bairros com mais opções.
Quem quiser pode acessar o site www.nossasaopaulo.org.br para visualizar todos os indicadores da cidade.