Ao abrir mão da convivência, seja com as pessoas ou espaços que costumávamos frequentar, muito se perde. E não apenas a questão do lazer, mas de saber as novidades, de ver coisas que estão erradas e poder encaminhar soluções para elas. Por mais que a internet, grupos de celular e mídias sociais ajudem a minimizar essa distância não é a mesma coisa que estar nos lugares e ver o que está acontecendo.
O momento pede que fiquemos isolados, em nossas casas, evitando ao máximo sair já que estamos no pior momento da pandemia, com avanços imprevisíveis da doença mesmo em pessoas sem qualquer comorbidade e sem capacidade de atender todos que precisam de tratamento. Mas não podemos abrir mão do que, mais que um direito, é um dever: participar da nossa cidade, do nosso bairro, dos equipamentos que utilizamos e que queremos que tenham qualidade.
A internet permitiu que órgãos oficiais encaminhassem processos administrativos com suposta transparência, já que basta ter acesso à rede para acompanhar. Mas essa tarefa nem sempre é fácil quando há tanta desigualdade na cidade. Podemos ilustrar isso nas tentativas do ensino à distância, que fluiu bem na maioria das escolas particulares, mas foi inviável para tantas famílias que não possuem uma boa conexão ou mesmo um equipamento adequado.
E mesmo para quem acompanha e já tem alguma experiência nos caminhos dos órgãos públicos, nem sempre é fácil achar dentro dos sites da Prefeitura os links de acesso e as abas de comentários. As cobranças são enviadas e a resposta é que serão avaliadas, mas muito difícil ter algum controle dos encaminhamentos. Em uma audiência pública, a notícia não está somente nas informações apresentadas por técnicos preparados para defender o que estão mostrando, mas em conversar com as pessoas que estão lá, que são diretamente afetadas.
Quando o problema está na porta da nossa casa, a mobilização é imediata. Procuramos os responsáveis e cobramos uma solução. Mas existe quem se dedica a cuidar não só dos seus problemas, mas de questões que impactam centenas ou milhares de pessoas, que são os voluntários dos conselhos de participação. É muito trabalhoso acompanhar e cobrar ainda mais quando do outro lado conversamos com uma “entidade” e não com uma pessoa. Mas esse trabalho, do dia a dia, é tão importante para uma gestão democrática quanto o ato de votar.
O momento pede distância, afinal como já dizia o ditado “o importante é ter saúde”, mas não podemos abrir mão da nossa presença e voz na gestão pública, caso do Parque da Água Branca e dos Consegs que aparecem nessa edição. Democracia não se restringe às eleições, mas em participar todos os dias.