Sentimos imediatamente o impacto que uma paralisação no transporte causa na cidade. Se algo semelhante ocorresse com a gestão dos resíduos, não aguentaríamos o caos por mais que um ou dois dias. Gestão de resíduos é um problema e todos deveríamos estar preocupados.
Um problema porque os aterros sanitários têm vida útil. Ao contrário dos lixões a céu aberto, que não podem existir na cidade, nos aterros os resíduos são cobertos por camadas de solo. Quando sua capacidade se esgota é necessário fazer o reflorestamento e criar áreas de lazer para reduzir o impacto ambiental. O aterro de Caieiras, que recebe os resíduos da região noroeste da capital, iniciou sua operação em 2002 e sua vida útil foi estimada em 20 anos, ou seja, ano que vem seria recomendado preparar o fim das atividades.
Talvez esse prazo seja estendido, já que em 2024 haverá a renovação do contrato de concessão da coleta de resíduos domésticos. Mas nós continuaremos consumindo e gerando resíduos. E o mais grave é que muitas pessoas utilizam materiais descartáveis como se eles simplesmente fossem deixar de existir. Tão bom seria se pudéssemos ensacar os nossos problemas e entregar para alguém sumir com eles. Mas com o lixo não é assim. Para nós que estamos em uma região privilegiada, com um serviço que dificilmente falha, com coleta seletiva, é muito cômodo o fato de que basta acomodar os resíduos, deixar na porta de casa e assim o lixo magicamente vai sumir.
Na Vila Jaguara está prevista uma estação de transbordo, uma etapa logística que compacta o lixo domiciliar antes de encaminhá-lo para o aterro. É inegável que a circulação de caminhões de lixo para um local que vai receber duas mil toneladas de resíduos todos os dias vai impactar a vida de quem vive lá. O transbordo deve estar em um local que seja adequado do ponto de vista logístico, mas que também não afete a vida de moradores.
De um lado vemos iniciativas muito positivas, como o pátio de compostagem da Lapa, que a comunidade está engajada para não perder. Vemos pessoas que substituem plásticos por vidros, evitam sacolinhas de supermercados, optam por um consumo consciente, mas elas não são a maioria.
A AMASPA, que luta contra a instalação da estação de transbordo, também relata outro fato preocupante. Ela é uma das associações habilitadas para participar da discussão da revisão intermediária do plano diretor. De 900 entidades cadastradas, 600 foram habilitadas, mas nas audiências, já em andamento, pouco mais de 20 pessoas participam, algumas nem isso. Como construir a cidade que precisamos sem participação? Assim como nossos resíduos, essa responsabilidade também é nossa.