Os vírus, não só o da Covid-19, mesmo em sua simplicidade estrutural, apresentam uma impressionante inteligência. Com o objetivo de preservar sua existência, eles se adaptam, ou melhor, passam por mutações. Sua letalidade deixa de ser elevada permitindo uma maior e mais duradoura transmissibilidade. Bom para esses organismos que garantem sua sobrevivência, ruim para nós que temos que conviver com eles e somos muito menos resilientes quando o assunto é alterar a nossa forma de viver.
Em 2022 completaremos dois anos em que a nossa vida mudou completamente. Um período de muitas perdas, quando nosso despreparo para uma crise sanitária mundial foi escancarado e de muitas adaptações impostas para o nosso próprio bem.
Se os vírus têm essa capacidade evolutiva de mudar para viver, nós humanos temos um sério problema de disciplina e doses elevadas de egoísmo. Aglomeramos quando não podia, rejeitamos medidas simples e inofensivas, como o uso de máscaras, alegando uma ameaça à nossa liberdade sem ao menos pensar que, para viver livremente em sociedade, a cooperação deve ser de todos. Humanos, tão complexos em sua estrutura, deveriam entender a simplicidade do que é colaborar para não prejudicar os outros.
O cancelamento do carnaval de rua já era esperado. Com praticamente todas as cidades do interior e de outras capitais anunciando que não iriam realizar o evento, São Paulo, por maior que seja, não conseguiria recepcionar todo o público que está no espírito de festejar. Não conseguiria realizar e fiscalizar festas seguras. Sem contar que não pegaria nada bem insistir em algo que pode prejudicar a saúde de tantas pessoas.
Essa atitude de bom senso era prevista. O que não deveria ser previsto, mas que se repete todo ano, é o avanço de projetos sem a devida participação popular nos últimos dias do ano, caso que pode ser ilustrado, por exemplo, com a publicação do edital de concessão dos parques estaduais da região. Algo previsível, mas que não deveria ocorrer dessa forma é quando obras há tanto tempo paradas, magicamente avançam em anos eleitorais, de acordo com a esfera (municipal, estadual ou federal) que estiver concorrendo na eleição. A celeridade nos investimentos em estrutura é necessária sempre, não só quando tem capital político envolvido. É previsível e detestável que hoje tudo vire motivo de debate polarizado sem nenhuma tentativa de criar um diálogo produtivo.
Temos um novo ano pela frente, mas muitos aprendizados e posturas que já deveriam ter sido incorporados continuam pendentes.