Não posso confirmar que exista uma base científica, mas dizem por aí que 21 dias é o período que nosso cérebro precisa para incorporar um novo hábito. Pouco mais de duas semanas repetindo uma mesma ação e ela passa a fazer parte da nossa rotina, de forma natural.
Pouco mais de duas semanas era a expectativa que tínhamos sobre o quanto duraria a pandemia, ou pelo menos sua fase mais restritiva. Ledo engano. Vivemos uma verdadeira montanha-russa de vaivéns. Restringir, afrouxar, restringir novamente, tudo de acordo com os índices epidemiológicos de internações e mortes. Neste ano, com a extremamente contagiosa ômicron, todos já estavam um pouco cansados. Vacinados e com relatos de sintomas considerados mais leves, teve quem achou por bem pegar logo “para se livrar”. Mesmo nos dias em que tivemos significativas mais de mil mortes diárias, em meados de fevereiro, isso não impediu aglomerações e o relaxamento nos cuidados.
Dois anos se passaram e não acredito que as máscaras tenham se incorporado como um hábito, já desmentindo a teoria que abre esse texto. Seria muito útil recorrer a elas nas épocas de surtos de gripe, por exemplo, mas chegamos agora ao momento em que o uso do acessório deixa de ser obrigatório em locais ao ar livre. O próximo passo será tirar a obrigatoriedade em locais fechados e a vida vai voltando ao que era.
Se tudo isso que vivemos foi um capítulo atípico da nossa história, uma exceção, talvez seja a hora de pensar um pouco sobre as coisas que normalizamos, que incorporamos no nosso dia a dia, mas que não deveriam ser consideradas normais. Achamos normal que no período chuvoso caiam árvores, que o fornecimento de energia seja interrompido, entre outros transtornos de verão. Se não somos os diretamente afetados, nem prestamos atenção na necessidade de cobrar um manejo adequado do verde e da infraestrutura.
Normalizamos que existam pontos de descarte irregular, desde que não sejam em frente às nossas casas. Nos incomodamos quando uma calçada é ocupada por barracas, mais do que nos incomoda o fato de que existam pessoas que não tem um lugar adequado para morar. E um dos piores cenários é quando ficamos sabendo de um latrocínio e achamos que a violência faz parte da vida na cidade.
Não deveriam ser habituais as ocorrências de roubos, golpes, a aceitação da desigualdade ou a dificuldade de comunicação entre órgãos públicos que deveriam trabalhar juntos. Talvez seja hora de rever nossos hábitos como cidadãos e ampliar o exercício dos nossos direitos e deveres.