Justiça

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Eu cheguei a viver uma época em que falar ou mesmo gostar de política era algo, na falta de palavra melhor, opcional. Sempre tiveram os apaixonados, de todas as vertentes, que traziam o debate sobre a condução do país. Mas muitas pessoas simplesmente não ligavam. Falar então dos magistrados era algo absolutamente de nicho. Isso mudou. A atuação dos juristas está na boca do povo. A política está com o pior clima possível. Julgamos o caráter de uma pessoa de acordo com suas preferências. São crescentes os casos de violência, inclusive fatal, envolvendo a polarização. E uma pesquisa recente aponta que 7 em cada 10 brasileiros têm medo de ser agredidos fisicamente por suas escolhas políticas.

Como dialogar e construir uma sociedade melhor, ou seja, mais justa, nesse cenário? Se o tema é justiça, é pertinente citar Rui Barbosa que disse “A justiça atrasada não é justiça (…) Justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada”. Também é dele a frase “O homem que não luta pelos seus direitos não merece viver”. É preciso dar razão ao que diz respeito à passagem do tempo. Se algumas lutas devem ser abraçadas para que as próximas gerações tenham um mundo melhor do que aquele que recebemos, outras não deveriam tomar tanto tempo para serem efetivadas.

Trazendo isso para a esfera regional, novamente os PIUs voltam ao debate. O Ministério Público pediu a suspensão do andamento dos projetos, incluindo o PIU Leopoldina, com o entendimento de que há um conflito se a discussão ocorrer de forma separada da revisão do Plano Diretor. Faz sentido. Na esfera do urbanismo é preciso considerar as políticas de forma integrada, para não se criar lotes de investimento e áreas abandonadas, como já aconteceu e é a nossa realidade. Na Câmara, os vereadores aprovam rapidamente em primeira votação os projetos, como os PIUs, mas seguram ao máximo para pautar a segunda e definitiva votação, também travando o andamento. É preciso um alinhamento planetário que envolva clima político, distância das eleições e ânimos arrefecidos para votar um projeto polêmico. Por isso não é incomum que algumas dessas votações espinhosas aconteçam no fim do ano legislativo, quando muitas das pessoas que acompanham estão desmobilizadas.

Enquanto isso, quem mais precisa de atendimento habitacional, quem cobra pela reabertura do Sorocabana ou do Parque Orlando Villas-Bôas, entre tantas outras causas, segue sem ter o que deseja ou precisa. No que tange à justiça, na avaliação de alguém que não é da área do direito e grosso modo a entende como dar o que é devido a alguém, em um tempo hábil aceitável, é preciso concordar que não podemos continuar com os mesmos problemas, as mesmas defasagens, ano após ano.

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