Já comentei outras vezes neste espaço o quanto me assusta e me entristece, enquanto indivíduo e mãe, ver cada vez mais, como se fosse uma cena normal e natural, grupos de crianças e jovens sentados em roda ou lado a lado, “conversando” avidamente pelo celular, sem expressar uma palavra sequer uns com os outros por incontáveis minutos. Apesar da presença física, é inacreditável como essa nova geração aprendeu a “conviver” apenas por meio da tecnologia, abrindo mão do contato pessoal, fugindo do olho no olho. Rindo, chorando ou desabafando apenas por áudios, textos abreviados e emojis…
E é justamente por sonhar com algo diferente – mais humano e menos digital – para nossas crianças e jovens que a conversa que tive esta semana com os diretores do grupo escoteiro Quarupe me emocionou e me deu novo alento, devolvendo em mim a esperança de acreditar que podemos – e devemos – fazer e esperar mais dessa nova geração.
O objetivo da conversa era saber sobre os 30 anos de atuação dos escoteiros Quarupe aqui na Lapa. Mas o que eu recebi foi uma belíssima e concreta lição de como, mesmo que dominados pelo celular e pelo computador, os mais novos podem aprender e se desenvolver como seres humanos mais engajados naqueles valores que realmente importam, ou seja, respeito ao próximo e à natureza através da convivência ao ar livre, do trabalho em equipe, da superação de limites e da espiritualidade. Mas não uma crença espiritual “fechada” e limitante, mas uma crença que respeita a diversidade e permite a inclusão.
Me surpreendi positivamente ao entender que, para ser escoteiro, é preciso cumprir um projeto educativo altamente elaborado e periodicamente atualizado, que trabalha, na teoria e na prática, a sociabilidade, as habilidades manuais e a superação de limites, com o objetivo final de ajudar cada integrante a construir um sólido projeto de vida calcado, acima de tudo, nos valores humanos. Aqueles que a sociedade como um todo está “ensinando” a deixar de lado…
Aprendi com os veteranos do Quarupe que ser escoteiro é muito mais do que participar de acampamentos e ajudar idosos a atravessar a rua. É estar Sempre Alerta – como diz seu lema – para o outro e com a natureza. É querer construir uma sociedade melhor para si mesmo e para todos.
Sem dúvida é disto que o mundo de hoje precisa tanto: formar cidadãos melhores para que os homens, como seres sociáveis, continuem a coexistir e o nosso planeta resista. O fundamento escoteiro me deu a esperança de que ainda é possível sonhar com um futuro menos sombrio e mais feliz para toda a humanidade. Ainda bem!