Cabe ao prefeito Gilberto Kassab decretar luto oficial de três dias, com direito a bandeira a meio mastro, pois a cidade perdeu a Companhia de Engenharia de Tráfico (CET). Vítima de forte sucateamento e de gigantesca perda de identidade e de função, ela faleceu em 27 de fevereiro.
Dias antes, em situação de agonia, com sua “burrocracia” respirando por aparelhos, a CET proibia as comunidades da Lapa e de outros bairros paulistanos de realizar desfiles de blocos carnavalescos. Em pleno estado de delírio, os responsáveis pela gerência Oeste do órgão alegavam, no caso da Lapa, que era inviável, tecnicamente, desviar o trânsito nas ruas Faustolo e Scipião num domingo, dia de fraquíssimo movimento viário.
Questionado sobre esse posicionamento, o responsável pela gerência técnica, Eduardo Ribeiro, admitiu que a CET se via obrigada a indeferir os pedidos dos blocos carnavalescos, como aquele entregue pelos organizadores do bloco A Lapa Somos Nóis, por não dispor de recursos humanos e materiais em quantidade suficiente. “Indeferimos, (na Zona Oeste) cinco pedidos”, explicava Ribeiro.
Cerceado o direito de manifestação, a comunidade buscou atalho que permitisse a realização do desfile. A acolhida veio do governo do Estado de São Paulo, por meio da ação do Batalhão de Trânsito, da Polícia Militar. Policiais, em motocicletas, garantiram a liberação de meia pista para o trânsito e meia pista para o desfile dos foliões, que em nenhum momento impediram a passagem de ônibus urbanos e veículos de passeio.
Mas aquele domingo, 27, preparava um grande e fatal golpe na moribunda CET, em particular na sua gerência Oeste: um forte temporal deixava ruas e avenidas da Sub Lapa literalmente submersas. Numa dessas áreas, região da rua Turiaçu, Avenida Pompeia e Avenida Sumaré, a água engoliu carros, invadiu casas e estabelecimentos comerciais e deixou cruzamentos sem a sinalização de semáforos. Em tom de revolta, um leitor avisava a reportagem do JG que não havia ninguém da CET no local, pelo menos das 17h às 20h, para orientar o trânsito.
Se faltava efetivo para tirar o paulistano do sufoco, assim que as águas baixaram na Pompeia, sobrava à CET vontade de fazer aquilo que seus dirigentes entendem ser a função básica do órgão: multar. E foi isso o que aconteceu com a organização do A Lapa Somos Nóis (Consabs), autuada por fazer um carnaval que não obstruiu trânsito algum, conforme pode testemunhar a Sub Lapa.
A CET, criada por Olavo Setubal- homem público cuja visão urbanística era de fazer inveja aos últimos gestores da maior cidade da América Latina – deu na Lapa seu último suspiro. O atual prefeito, Gilberto Kassab, precisa reconhecer o óbito e devolver à cidade a engenharia de tráfego que Setubal idealizou.