Nascida em Belém do Pará, a cantora lírica Carmen Monarcha, tem uma carreira internacional de sucesso e se apresentou nos principais palcos do mundo. Atualmente morando em Maastricht, na Holanda, ela sempre que pode vem ao Brasil para rever a família e os amigos que moram no Sumaré. Gravou nove CDs e 12 DVDs. É solista da orquestra de Andre Rieu e faz diversas temporadas pelo planeta. Fã confessa do bairro, Carmen conta um pouco de sua rotina como cantora lírica, do CD que está preparando e do que gosta de fazer por aqui.
Você começou com a música clássica por influência de sua mãe?
Comecei graças a minha mãe (Marina Monarcha), que também é cantora lírica. Foi na Escola de Música do Rio de Janeiro, com piano, mas não sou uma concertista. Depois, tentei um pouquinho de violino, que me encantava o som, mas não era para mim. E tive contato com o cello, que eu amo, mas não estudei muito.
E como você descobriu que seu instrumento seria sua voz?
Com 17 anos comecei a cantar e abandonei o instrumento e só fiquei com a voz.
Você foi criada no Rio de Janeiro. Chegou a São Paulo quando?
Com 18 anos. Me apaixonei mesmo. Vim para participar de um festival de música. Atravessei a Avenida Paulista da Rua Vergueiro e desci pela Rua Augusta, no sentido do centro. E pensei “o mundo está aqui. Eu preciso me mudar para cá”. Sou apaixonada por São Paulo.
Quando você vem ao Brasil, quanto tempo passa por aqui?
Fico aqui umas três semanas.
E como você iniciou sua carreira na Europa?
Fui para estudar. No Rio, eu conheci uma professora holandesa (Mya Basselink) que gostou de mim. Eu tinha 17 anos. Ela me convidou para ir estudar na Holanda. Consegui uma bolsa de estudos e fui em 2000. Lá, fiz a universidade de canto.
Mas antes de ir para a Europa, você já havia ganho alguns prêmios por aqui?
Sim, saí para estudar. Aqui já tinha ganho o concurso Irmãos Nobre e quando estava na Holanda, vim para participar do Bidu Sayão, que é um dos mais importantes, e consegui ganhar.
Seu repertório é apenas lírico, tem espaço para músicas populares?
Estou entrando agora no popular. É minha base, a minha formação. E estou produzindo meu primeiro CD só meu. A base é clássica, erudita. Quando fui morar fora, senti falta da música brasileira. Lá passei a ouvir mais MPB e outros gêneros. A energia do popular é que eu levo quando estou fazendo o clássico. Talvez meu desprendimento, a forma que eu encaro meus personagens, de uma maneira mais aberta e direta, vem da minha relação com a música popular.
Como será esse CD?
Será só o CD a princípio, mas depois quero acrescentar um DVD. Canto árias de óperas famosas como Carmem, de Bizet, com um arranjo legal, para que o ouvinte absorva mais aquela melodia, com uma roupagem mais acessível. Vou incluir clássicos de rock do Queen e trazer para o samba brasileiro. Coisas da minha terra como o boi bumbá, o carimbó, com textos de um compositor clássico paraense chamado Waldemar Henrique. Ele resgata essa coisa típica, regional. Quero que seja um CD universal. E a minha voz é que vai ligar tudo isso. Será uma grande união da cultura internacional, cantando Piaf e também vou cantar Tom Jobim. Será um saladão e minha voz será o molho (risos).
Quando será lançado?
Em meados do ano que vem.
Você vê muita diferença entre a música clássica e a popular?
Muito pelo contrário. Penso que tudo é uma música só.
No Brasil, ópera é para poucos?
Talvez pelo poder aquisitivo. É difícil de se fazer, custa caro. E não é uma coisa da nossa cultura, ela é europeia. É preciso de uma orquestra e os ingressos ficam caros. Os CDs custam muito. A produção é cara e não é uma arte acessível. Mas tem público.
Como você chegou até a orquestra de André Rieu?
Foi o destino. No primeiro ano que eu estava na Holanda, fui substituir por uma semana alguém que tinha adoecido no coral dele, por indicação da minha professora. Sabia que ele era importante mas não sabia muito. Fui conhecê-lo no palco. No final do trabalho ele quis falar comigo. Pensei que eu tinha feito alguma coisa errada. Mas não, ele me convidou para ser solista dele. Mas não pude aceitar. Eu ainda tinha que me formar e tinha uma bolsa.
Mas não valia a pena?
Tenho os pés no chão. A carreira de uma cantora tem um prazo de validade. Se tiver uma excelente técnica, você pode cantar até os setenta anos. Mas você precisa saber usar. Nós somos desportistas da arte. Falamos o tempo todo, comemos e cantamos.
E quando você virou solista?
Dois anos depois, me formei e voltei para o Brasil. Duas semanas depois de formada, recebi uma ligação dele me convidando para trabalhar com ele. Comecei dez dias depois. Hoje, faço algumas temporadas com ele. Já tive contrato de exclusividade, mas prefiro ficar mais livre para viajar mais.
Quais os palcos que você se apresentou?
São vários lugares memoráveis: no Walbüne, em Berlim, é um deles. É uma arena que fica no meio de uma floresta e foi construída por Hitler. Foi muito marcante. É um lugar muito popular da Alemanha. Lá se apresentam clássicos e populares. Pavarotti, José Carreras se apresentaram lá. Eu cantei cinco vezes. O Forum Hall de Tóquio é outro palco que gostei de me apresentar. São muitos.
Quando poderemos ver você nos palcos de São Paulo?
Vou cantar na Sala São Paulo no ano que vem peças modernas do francês Mercian. Vai ser incrível, ele é muito moderno e não sei se já fizeram alguma coisa aqui no Brasil.
Quando você está por aqui, onde gosta de ir?
Vou ao Dr. Sato, que é um ótimo quiropraxista.
E que outros endereços você frequenta por aqui?
Tenho quatro cantinhos que vou sempre que estou por aqui. Vou ao Dib (cozinha árabe), ao restaurante Café Gala e à padaria Pompeia Chic, onde vou tomar café da manhã, lanchar e conversar com as meninas… E vou também à La Veronessi. E sempre que tenho uma comemoração, eu vou à Pizzaria 1900, da Rua Cotoxó.
Você gosta do bairro?
Adoro. Amo este bairro. Quero comprar um apartamento neste prédio.
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