Falar da mudança da Ceagesp é algo bastante complexo. Basta lembrar a crise de abastecimento que aconteceu em maio do ano passado, em decorrência da greve dos caminhoneiros. A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo ficou irreconhecível, com boxes fechados ou vazios, muitos produtos estragados e mercados da região com menos opções de frutas, verduras e legumes, o que demonstra o quão dinâmica é a logística do comércio de alimentos frescos.
O governo facilitará a criação de entrepostos privados, com autorização de acessos nas principais rodovias. De forma geral, descentralizar uma operação costuma ter bons resultados, já que reduz fretes, promove geração de emprego regional e garante a continuidade das atividades caso ocorra problemas em uma das unidades.
Essa mudança terá vários efeitos colaterais, já que envolve milhares de pessoas. Quem está acostumado a trabalhar por aqui, talvez não tenha a disponibilidade de ir para o novo local que será anunciado, sejam os permissionários que compraram casas no bairro, sejam as pessoas das comunidades que trabalham descarregando mercadorias. Do ponto de vista ambiental, certamente haverá melhorias, com menos 12 mil veículos circulando pelo bairro. Já a especulação imobiliária será vertiginosa na região, e muitas pessoas virão para a Leopoldina para trabalhar ou morar, de forma semelhante ao que aconteceu no entorno da Avenida Berrini, logo, é difícil acreditar que uma redução do trânsito aconteça.
Se for levado adiante o plano de se construir um polo tecnológico, é esperado que parte da estrutura da Ceagesp seja mantida, pelo seu valor histórico para a cidade. Por enquanto, o pronunciamento oficial é que haverá sim uma nova Ceagesp em outro local, mas não seria de se estranhar se houvesse a tentativa de privatizar tudo.
E por falar em valor histórico e privatização, neste sábado será aberto ao público o MIS Experience, com uma exposição pelos 500 anos de Leonardo da Vinci. A homenagem é merecida para um homem que foi de fato um dos maiores gênios em todas as áreas que atuou, das artes à engenharia e estratégia. Ao visitar o espaço da exposição, o governador João Doria agradeceu os patrocinadores, uma vez que tudo foi viabilizado por investimentos privados. Pena que não houve essa mesma movimentação governamental com empresas para reabrir a Estação Ciência, que hoje abriga a sede da Jucesp.
Quando há a determinação de fazer algo e se tem o poder de articular os envolvidos, as coisas acontecem. É muito importante que a população participe de todo o processo de transformar essa área considerável da cidade, talvez a última deste porte, para garantir que o bem comum não seja engolido por interesses políticos ou de empresas.