Em um momento em que todos os olhares estão voltados à política, reformas econômicas, discussões jurídicas, crises ambientais e corrupção, é preciso discutir o grande impacto que a desigualdade ainda causa no país. Inclusive porque a desigualdade é a origem da maior parte dos problemas que temos hoje. Defender a meritocracia em uma sociedade onde pouquíssimas pessoas detêm a maior parte do dinheiro e têm acesso às oportunidades é simplesmente desumano. E ainda por cima vivemos em um sistema que a cada ano parece aumentar ainda mais a distância entre os mais ricos e os mais pobres.
A divulgação do Mapa da Desigualdade 2019 demonstra como a vida é muito mais difícil para quem vive longe da região central. E mesmo aqui, na nossa área, temos diferenças notáveis. Enquanto a média da idade ao morrer na Lapa e em Perdizes é de 78 anos, no Jaguaré é de 67. Como pode um trecho de pouco mais de seis quilômetros representar uma diferença de onze anos?
O estudo apresenta dados coletados em 2018, quando foi constatado que temos uma proporção de área verde por habitante de 11,04 m², pouco abaixo da recomendação da Organização Mundial da Saúde, que é de 12 m². Não dá para saber se esse número será mantido no ano que vem, após tantas podas drásticas que vimos nos últimos meses. Áreas verdes que seriam muito importantes na Barra Funda, que ficou entre os cinco distritos que mais emitem poluentes atmosféricos e, como poderíamos esperar, é o terceiro bairro em casos de mortalidade por doenças do aparelho respiratório.
Por outro lado, nossa região é destaque em opções de aparelhos culturais, tema que também foi discutido na oficina realizada na quinta-feira (7) sobre o Plano Municipal de Desenvolvimento Econômico. Muito foi falado sobre a vocação do território para cultura, lazer, gastronomia e economia criativa. Mas se felizmente temos variadas ofertas de cultura por aqui, é preciso ter consciência que 23 bairros da cidade não contam com nenhum equipamento cultural público.
Diminuir a desigualdade passa pela oferta de atendimento de saúde de qualidade em tempo hábil para a população, pela existência de lugares onde as pessoas podem se informar e ampliar seus conhecimentos, por facilitar a mobilidade. Se a desigualdade não diminuir, continuaremos com os mesmos problemas de violência, baixa performance na educação e um sistema de saúde público precário, isso se as coisas não ficarem ainda piores. Precisamos cobrar políticas públicas que encaminhem a sociedade para um cenário em que mais pessoas tenham oportunidades e, só assim, poderemos falar em mérito pessoal como ferramenta para a prosperidade.