O debate sobre privacidade e nossa escolha de sermos monitorados ou não é ultrapassado. Já somos. Basta ter um celular, um cartão de crédito ou um perfil nas redes sociais, e geralmente temos todos eles, para fornecer uma infinidade de dados a sabe-se lá quem. Nossos trajetos, hábitos de consumo e até características de personalidade estão compilados em algum servidor por aí.
Não podemos ser saudosistas de uma liberdade que também tinha suas limitações. É evidente que toda a tecnologia representa avanço e conforto para os nossos dias. Só de não precisar ir ao banco para a maioria das transações já é uma grande vitória. Também temos acesso a qualquer informação que desejamos na palma da mão. Conseguimos as melhores rotas para fugir do trânsito ao permitir que um aplicativo nos monitore. Um preço razoável a se pagar. Mas é curioso que ao fazer uma compra de grande valor, como uma casa ou um carro, todos os pormenores do contrato serão avaliados por nós. Já quando estamos diante dos termos de privacidade de um site ou aplicativo ninguém lê, somente aceita.
Ter toda a nossa vida atrelada aos nossos inseparáveis celulares tem problemas nada virtuais. Se por um lado é prático fazer transações bancárias com alguns toques, é terrível estarmos sujeitos à violência, como no caso do sequestro que aconteceu durante essa semana ou em tantos outros que sempre ouvimos falar. Só que foi o mesmo aparelho que seria utilizado para transferir dinheiro aos sequestradores que contribuiu para o bom desfecho da ocorrência. Através do rastreamento, a Polícia Militar encontrou a vítima e conseguiu salvá-la. Não sem risco já que aconteceu uma troca de tiros.
Sabemos que na região a instalação de câmeras por moradores contribui muito para investigações e captura de criminosos. Até por isso que ampliar a quantidade desses equipamentos é uma das metas do Plano de Segurança Urbana que está em construção.
São os nossos celulares que registram os problemas de zeladoria, que antes poderiam ser facilmente negados, as perturbações do sossego e até casos revoltantes como o episódio de racismo que aconteceu na Biblioteca Mário de Andrade, no Centro, durante a semana. Esses registros geram provas materiais e contribuem para um melhor encaminhamento das soluções ou punições.
O problema nunca está na tecnologia em si, mas no seu uso desvirtuado, na criminalidade que se aproveita das fragilidades e na falta de responsabilidade que algumas pessoas ainda insistem em ter, como se a internet fosse terra de ninguém. Cada vez mais nossas ações e palavras no mundo virtual terão impacto no real.