Falsa assistência social

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EDUARDO FIORA

Combinemos assim: fechemos todos os prostíbulos da Leopoldina, Lapa e Jaguaré. Afinal, esse tipo de atividade fere nossa moral e nos causa imenso desconforto, principalmente à noite, se somos obrigados a cruzar ruas, becos ou avenidas. Além disso, garotas de programa que conversam com seus clientes bem debaixo de nossos narizes é uma cena que não pega bem para a imagem do bairro onde moramos. Uma vez assim acertado, não nos esqueçamos de ignorar o destino das garotas. E essa é a parte mais simples de nosso trato. Basta dizer a nós mesmos que não estamos diante de um problema social; que as garotas, às vezes adolescentes, estão lá por vontade própria. Se quisermos, podemos sofisticar ainda mais o grau de nossa miopia, acrescentando que qualquer esforço de reinserção social dessas moças é inútil, pois muitas delas gostam do que fazem.
O relato dessa visão completamente distorcida da realidade cotidiana não é mera retórica. Infelizmente ele retrata o que pensam determinados segmentos comunitários, como a diretoria de Assistência Social do Conseg Leopoldina, que externou seu ponto vista em reunião plenária ocorrida no dia 16. Na ocasião, houve por parte da diretoria do Conseg a enfática defesa de uma posição: palmas para o fechamento dos prostíbulos e nada a fazer quanto aos destinos das garotas, mesmo que dentre elas existam infâncias perdidas.
Grande equívoco comete quem pensa dessa maneira. Em dissertação de mestrado na Escola de Enfermagem da USP-Ribeirão Preto, Stella Botelho mostra como a prostituição está relacionada com a desestruturação da família – vítima de adversidades – e a fatores como o tráfico de drogas. A mestranda concluía seu trabalho, em 2003, afirmando que: “Outra necessidade é propiciar um novo olhar para a exploração sexual feminina, com vistas ao planejamento e implantação de serviços para essas meninas visando a uma perspectiva multidisciplinar na adoção de intervenções que promovam uma ressignificação de suas vidas e aquisição da auto-estima perdida”.
Há um enorme abismo entre a proposta de Stella Botelho e o discurso da diretoria do Conseg. Alguém anda na contramão das lutas sociais numa sociedade tão desigual como a brasileira. Um pouco de bom senso e humanidade nos mostram qual das duas posturas trilha o caminho certo e qual, lamentavelmente, segue pelo desvio do egoísmo nas relações humanas, antítese completa daquilo que se pode entender como Assistência Social.

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