“Não há praga urbana que seja tão devastadora quanto a Grande Praga da monotonia”. Esse é um dos ensinamentos com os quais nos presenteia Jane Jacobs, jornalista norte-americana especializada em arquitetura e falecida em 2006. Seu livro, Vida e Morte de Grandes Cidades, escrito em 1961 e editado no Brasil no ano 2000, fascinou o governador José Serra, que enquanto prefeito de São Paulo indicou a obra para todo o seu secretariado e assessoria.
Lida com atenção, como de certo o fez Serra, Jane Jacobs nos oferece importantes reflexões sobre o uso racional e humano dos equipamentos públicos que as grandes cidades nos oferecem. Um deles é a praça, um bem tão caro a todos nós que moramos e/ou trabalhamos na região da Lapa e adjacências, sobretudo para aqueles inseridos em áreas com características “city”.
Mas se olharmos bem para as praças que nos circundam é fácil notar que, invariavelmente, nelas se instala um grande vazio, eternizando a monotonia do nada. Sim, as praças da gente são vazias de relações humanas.
Jacobs defende e exalta a ocupação plural das áreas verdes urbanas, e relata casos concretos de uma verdadeira ocupação humana, como aquela ocorrida numa praça em Londres. “Em todas as noites agradáveis de verão vêem-se televisores fora de casa, usados em público, nas velhas calçadas movimentadas. Cada aparelho, com uma extensão elétrica estendida ao longo da calçada até a tomada de algum estabelecimento, transforma-se em um quartel-general informal de mais ou menos uma dúzia de homens que dividem a atenção entre a televisão, as crianças das quais devem cuidar, as latas de cerveja, os comentários dos outros. Desconhecidos param e, quando querem, se juntam à platéia”.
Está na hora de reinventarmos as praças. Está na hora de nos reencontrarmos nelas. Nesse sentido fica aqui uma sugestão à gestora de plantão na rua Guaicurus, 1000: ao invés de propor a criação de novas áreas verdes inclusive em locais onde a lei determina outro uso, como acontece no Humaitá, que tal elaborar uma política cultural e de lazer capaz de quebrar a monotonia instalada nas praças da região? Que tal nelas recuperarmos o coreto, a banda, o realejo, os jogos de mesa? Por que não estimular a encenação ao ar livre de uma peça ou mesmo a leitura de contos infantis?
Não nos faltam áreas para tanto. Temos praças de montão. Precisamos, isto sim, nos reencontrarmos nelas, enquanto gente que somos.