Um diálogo sereno, mas com boa falta de
sintonia. Foi assim o encontro da Subprefeitura da Lapa com a população
do Jardim Humaitá, região da Leopoldina marcada pelo abandono do poder
público, conforme mostram as reportagens do JG publicadas desde 2003.
Na quarta-feira, 25, representantes da Sub se reuniram com moradores
locais (inclusive várias famílias que moram na área favelada) para
organizar o Mutirão Jardim Humaitá, marcado para este sábado, 25 (
9h-17h), incluindo Operação Cata Bagulho e projeção de cinema ao ar
livre, evento marcado pela (18h).
Enquanto os funcionários públicos se esforçavam para tirar da
comunidade o que ela gostaria que fosse feito no dia do Mutirão
(limpeza da Praça Rodolfo Trevisan e das margens do córrego local, por
exemplo), moradoras pediam a palavra para tocar em outros assuntos,
como a falta de creches na região. “O mutirão deste fim de semana é um
primeiro movimento de aproximação, mobilização e melhoria. Espero que
seja daí para mais”, disse Soninha ao JG. A redação do jornal deixou
com Soninha cópias de todas as matérias feitas pela redação envolvendo
a exclusão social no Jardim Humaitá.
A reportagem, pouco antes do início da reunião marcada pela
subprefeitura, visitou a favela que se estende ao redor de um córrego a
céu aberto, verdadeiro receptor de esgoto, e ouviu a queixa
generalizada de várias mães. “Tive que procurar por uma creche na Vila
Leopoldina, pois aqui no Humaitá não tem nenhuma. Encontrei vaga, mas
não matriculei meu filho, pois não tem perua da prefeitura para levar e
buscar a criança. Perua particular custa mais de cem reais. Meu filho
fica aqui no Humaitá na casa de um parente que também tem uma criança
de sete meses”, relatou, indignada uma moradora, repetindo seu drama
para a assessora da subprefeita Soninha.
Alheios à movimentação da subprefeitura, trabalhadores informais da
caixaria explicavam como deixaram o terreno que ocupavam na região
próxima à Ceagesp e se instalaram em área pertencente à Eletropaulo, ao
lado da favela do Humaitá. “Colocaram (a subprefeitura) blocos de
concreto para impedir o nosso trabalho. Acontece que desse trabalho
dependem mais de 90 pessoas. Estávamos na Leopoldina e tivemos que
procurar um outro lugar. Estamos aqui trabalhando honestamente e pode
acreditar que estando aqui impedimos a invasão deste local. Sem nós por
aqui, isso viraria uma outra favela”, afirmou um dos líderes da
caixaria, que, a exemplo daquelas ainda existentes na Leopoldina, se
constituem num problema social ainda ignorado pelos governos federal,
estadual e municipal.