No final de setembro, homenagens no centenário da Pompeia. No início de outubro, a largada dos festejos dos 421 anos da Lapa, com ações de cidadania e civismo. De formas diferentes e em momentos distintos, as comunidades locais encontram-se num denominador comum, que se expressa na noção de pertencimento.
Moradores da Pompeia certamente se reconheceram na festa dos cem anos do bairro, onde a guerreira Maria Antonietta de Lima e Silva, presidente da Associação Amigos da Vila Pompeia, relembrou a formação do bairro e apontou os desafios dos tempos atuais, quando a palavra de ordem é absolutamente clara e precisa: desenvolvimento, sim, mas com respeito à qualidade de vida e às questões sociais.
Moradores da Lapa e da região que se expandiu a partir dela (Alto da Lapa, Vila Romana, entre outros bairros), igualmente mostram que se reconhecem enquanto lapeanos, uma gente sempre disposta a lutar pelos interesses regionais e com uma vontade expressa de sempre se confraternizar, de estar junto do outro, compartilhando alegrias e dificuldades.
Esse sentimento de pertencimento a uma base territorial comum (bairro), onde culturas diversas dialogam, divergem e deságuam numa síntese capaz de redimensionar o diálogo inicialmente proposto, nada mais é do que a vida cotidiana, que este jornal optou por chamar de vida comunitária, e que certos segmentos preferem classificar de sociedade civil, recusando-se terminantemente (e incompreensivelmente) a usar o termo comunidade.
Nascida na Hungria, em 1929, a renomada filósofa Agnes Heller tem boa parte de sua obra calcada no conceito de cotidianidade. Ao se referir à vida cotidiana Agnes afirma que “ela não está fora da história, mas no centro do acontecer histórico”.
Em tempo de aniversários dos bairros da gente, podemos reinterpretar a filósofa húngara afirmando que a vida comunitária e a dinâmica do associativismo estão no centro da história. Zanfelice, Décio Ferreira, Boneli, Antonietta, Leonildo, Rivetti, Barros Lima, João de Sá, são nomes que fizeram ou ainda fazem uma história que nos é cara. A eles, e a tantos outros personagens do associativismo de bairro ou corporativo, é que devemos boa parte da infraestrutura urbana e dos avanços em áreas sociais na nossa região. Também é possível dizer, sem medo de errar, que todos nós que vivemos os dias do centenário da Pompeia, os 421 anos da Lapa e outros tantos aniversários ainda sem data festiva – como acontece com a Vila Leopoldina, Hamburguesa, Romana, entre outros bairros – igualmente fazemos parte dessa centralidade apontada por Agnes Heller. Nossas ações,- pequenas ou grandes, anônimas ou reconhecidas publicamente, em casa ou no trabalho – formam o mosaico humano da vida cotidiana destinada a ser parte da história: a história da gente.