Cada cidadão brasileiro, em particular aqueles que moram na região da Lapa deixaram no dia 13 de novembro, por meio do lapeano Gaetano Brancati Luigi, um sinal indelével na cidade italiana de Assis, que em 2000 foi declarada pela Unesco Patrimônio Histórico Mundial. Esse sinal tem a forma de um arco, feito de pedras e carrega consigo elementos simbólicos de grande significado: o sino e uma pomba. Esse sinal tem um nome e uma autoria: Marco da Paz, idealizado por Luigi há mais de 10 anos como forma de promover a cultura da Paz.
O monumento já está presente em cidades brasileiras e em grandes centros internacionais na Argentina, Uruguai e China. Mas o Marco da Paz de Assis, para seu criador tem um significado especial. Seja por estar em solo Natal (Luigi nasceu na Itália); por ter sido construído na terra de um homem pregador de uma mensagem de paz e harmonia entre o ser humano e a natureza (Assis é terra natal de São Francisco) e também por ter sido inaugurado na presença de uma grande comitiva de amigos, em especial aqueles da Lapa, o que tornou ainda mais cristalina as lágrimas de emoção que percorreram o rosto desse imigrante italiano que a Lapa carinhosamente adotou décadas atrás.
Como bem lembrou o prefeito da cidade italiana e o próprio idealizador da obra, o Marco da paz é um gesto de dois países para a construção de um mundo mais humano e mais justo. Já o representante do Vaticano foi bem mais além em seu posicionamento em relação ao significado do Marco da Paz, alertando para a necessidade da construção de um novo modelo econômico que se contraponha ao atual, onde a globalização quebrou a barreiras comerciais mas gerou grandes desigualdades. Segundo a Santa Sé, não há como falar em paz quando se sabe que existem milhões de pessoas em todo o planeta vivendo sem dignidade. Para começar a mudar essa realidade, o Vaticano é a favor de uma nova ordem econômica e financeira mundial.
Foram palavras de uma clareza absoluta e compreendida até mesmo por quem não domina o idioma italiano. Foram palavras que tem muito a ver com a realidade do Brasil, da cidade de São Paulo e com algumas áreas carentes existentes nos bairros da gente. Se localmente não temos como mudar a ordem econômica estabelecida, podem sim, pensar em transformar a dura realidade das ruas onde, em muitas esquinas, vivem homens, mulheres, crianças e idosos, sem cidadania, sem dignidade e esperança.
Como fez Luigi em Assis, badalemos o sino do Marco da Paz que foi erguido na esquina da Avenida Mercedes com a Rua Gavião Peixoto. Seria a maneira simbólica de darmos início a um grande projeto comunitário que resgatando a cidadania e dignidade perdida se transforme num gesto concreto para a construção da paz.