Com o pires na mão

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Com todas a vênias possíveis e imaginárias, a situação é constrangedora e, por isso mesmo, merece uma profunda reflexão. Ao visitar um imóvel disponível para locação comercial e no qual haveria a possibilidade de acomodação do Juizado Cível Especial do Fórum Regional da Lapa (transferido para a Freguesia do Ò por conta da infraestrutura precária no prédio da Rua Aurelia onde estava instalado), representantes do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) descartaram o negócio, pois o proprietário da casa não concordou em realizar reformas solicitadas pela magistratura paulista orçadas em R$ 50 mil.
Questionado a respeito dessa exigência, o TJ-SP explicou que o imóvel precisaria passar por adaptações para viabilizar, entre ouros itens, a instalação da rede computadores, vital para o funcionamento do Juizado. Porém, segundo o Tribunal, não existem verbas nos cofres do Poder Judiciário para tocar adiante a reforma. Daí a exigência contratual do proprietário arcar com os custos das adaptações necessárias.
No exato momento em que a magistratura paulista ganha o noticiário nacional, no qual o TJ-SP, por conta dos milionários pagamentos antecipados feitos a um grupo de juízes, é chamado de Reino da Toga, a afirmação de que não existem no caixa da Justiça paulista R$ 50 mil nos leva do reino togado ao Teatro do Absurdo,uma forma de dramaturgia moderna que se utiliza, para a criação do enredo, de diálogos chocantes do ilógico, com o objetivo de reproduzir diretamente o desatino e a falta de soluções em que estão imersos o homem e sociedade.
No palco da vida real cotidiana, a dramaturgia do absurdo  ganha densidade ainda maior quando se sabe que, com o pires na mão, o TJ-SP recorreu ao governo de São Paulo em busca de verbas para esse tipo de reforma. Para manter em cartaz essa peça surreal, a Secretaria de Estado da Justiça deu, de pronto, uma valiosa contribuição, fazendo ouvidos moucos ao pedido da magistratura.
Essa fantástica história segue adiante e tem tudo para se transformar em ópera cômica, com direito a um “gran finale”. O pires da magistratura foi acolhido por setores da comunidade (advogados, empresários) que, cansados de tamanha incoerência que graves prejuízos traz à população, se dispuseram a ir atrás de recursos que viabilizem eventuais reformas em imóveis que sirvam ao retorno do Juizado Civil para a Lapa. Toda essa situação requer um novo e imediato posicionamento do presidente do TJ-SP, desembargador Ivan Sartori. Que a mesma energia usada pelo magistrado no que vem sendo chamado de “cerco à turma do milhão”, esteja presente na condução de uma solução digna para os problemas da Justiça na região da Lapa.

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