Oh! Brasil da minha infância!

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Que belos os dias a cada manhã que nascia e como era bom rezar, com a mamãe, quando o sol mergulhava atrás das matas! Ah! anos de inocência e de paz, como eu não os vi passar!… Os cachos de ouro se foram, as calças de abotoar na blusa também ficaram na escuridão dos tempos. Ah! os pés descalços na enxurrada, atrás dos barquinhos de papel, e, saltitantes nas calçadas sob a soalheira…
No entanto, os tempos eram muito ruins: o “crack” de 29 nos Estados Unidos; no Brasil, as supersafras de café sem comprador e sem silos de armazenamento. Fazendeiros quebrando, com seus cafezais em flor, deixados a apodrecer no pé… A crise nos pegava e nos arrastava para a pobreza. Era pegar o trabalho que viesse: em 34, meus tios pedreiros pegaram para construir um sobrado em Cravinhos e minha mãe foi com eles para cuidar da casa e da cozinha.
Em 35, (enquanto em São Paulo na Lapa, nascia a Gininha), Em Ribeirão Preto nós fomos morar numa casa onde moravam já muitos escorpiões, que, à noitinha vinham passear na sala. Eram bichos comuns numa cidade quente. Eles vinham pelas frestas do assoalho, pois se criavam no porão da casa. Nós nos assustávamos e meu pai, com o tesourão, cortava-lhes os ferrões ameaçadores e eles fugiam para os seus esconderijos, enquanto nós caíamos na risada! Nunca nenhum de nós foi picado. Anjos da Guarda, fortes, protegiam-nos e deviam rir também. Às vezes, aparecia um daqueles aleijados e alguém dizia: “esse não tem perigo!” (Ha! Ha! Ha!)
Foi nesse ano, que eu consumei algo épico: tendo aprendido a contar e a escrever os números, escrevi-os de um a mil; qualquer papel servia; minha irmã os cortava no tamanho certo e lá ia eu com o meu cartapácio e meu tôco de lápis. Ganhei fama de estudioso.
No ar, o som do rádio era a maravilha do século: aquela caixa arredondada transmitia discursos, notícias, cantores, novelas. O admirável mundo novo chegava e espantava os povos! 

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