O descaso com o patrimônio público e histórico é visível na região. O prédio do Hospital Sorocabana é um exemplo. O hospital fechou em 2010 durante a administração da Associação Beneficente Hospital Central Sorocabana, ligada a antiga estrada de ferro. Em 1955, o terreno foi cedido pelo governo estadual à Associação Beneficente desde que no local funcionasse um hospital. Como em setembro de 2010, o Sorocabana encerrou as atividades, abriu-se uma brecha jurídica para que o Estado pedisse de volta o imóvel (em 4 de outubro de 2011) na justiça, com base em uma cláusula do contrato. Depois houve assinatura de um termo para municipalização do hospital, mas o atual secretário adjunto de Saúde afirma que ainda falta um decreto de transferência de todo o prédio do Estado para a Prefeitura. Segundo ele, a unidade AMA 24 horas e da rede Hora Certa funcionam com base em um acordo, mas precisa da publicação da cessão pelo Governo do Estado. Enquanto o acordo não é sacramentado em Diário Oficial, o prédio de 60 anos fica sem destino, nem projeto de reforma. A reportagem circulou na manhã de quinta-feira sem identificar nenhum vigilante na área que fica do lado direito do prédio do hospital. Rica em “puxadinhos” de portas escancaradas com arquivos e fichas espalhadas pelo chão, uma das salas tem um mamógrafo abandonado, assim como o prédio. A retirada do estacionamento que explorava o serviço no hospital desde a época da associação, deixou a entrada pela Rua Faustolo mais vulnerável a todo tipo de ocupação. Pelo menos é o que revela um breve passeio pelo local. No antigo almoxarifado materiais hospitalares estão espalhados no chão em meio a muita sujeira e até pãezinhos, sinal que o local é usado para abrigo.
Em um dos puxadinhos dois homens circulavam livremente e guardaram um carrinho como se estivessem em casa. Eles se identificaram como varredores, mas sem nenhum uniforme – padrão da empresa de varrição. Sem segurança, a unidade Hora Certa teve furtados computador e monitores da sala de ultrassom além da fiação da bomba de água da cisterna (no térreo) que era acionada automaticamente para abastecer o prédio. Até uma torneira foi levada do banheiro de funcionários. É preciso que o poder público (estadual e municipal) acabe com o impasse sobre a posse da área antes que o prédio fique sem salvação.
O acervo da história do Museu da Lapa também passa pelo mesmo problema. Depois de anos sem um local certo, o Centro de Memória parecia ser o lugar definitivo até que a atual supervisora de Cultura Adriana Reis anunciar a transferência para o Museu da Cidade. Famílias tradicionais e empresários da área de educação e cultura manifestaram interesse em conservar o acervo no bairro como idealizou seu primeiro guardião, Miguel Dell’Erba. Quem foi à reunião anunciada pela supervisora, publicada em matéria da edição passada do JG, não encontrou a anfitriã. Sem localizar a supervisora, a redação do JG entrou em contato com o subprefeito da Lapa, José Antonio Queija que conseguiu contato com a funcionária. Segundo Queija, ela alegou que a reunião divulgada foi cancelada, só que não avisou nem o jornal ao qual deu entrevista, nem o funcionário do Centro de Memória.
A greve dos professores da rede estadual por melhores salários e condições de trabalho é legítima, mas a pichação dos prédios de escolas,como a Anhanguera que é tombado e que passou por reforma e restauro, não foi um bom exemplo para os jovens estudantes que correm risco de ficar sem história para contar.