Todos os sábados, o artista plástico Daniel Caballero se veste com jeans, botas e chapéu para trabalhar em sua instalação Cerrado Infinito, na Praça da Nascente (Homero Silva), na Pompeia. Ele revolve a terra, junto com outros ativistas que aderiram ao seu projeto, para o plantio de espécies. No alto do antigo morro do Careca, onde hoje fica a praça, Caballero resgata a vegetação original da Cidade da época dos Campos de Piratininga.
As espécies de cerrado ele garimpa em areas como estacionamentos abandonados, margens de rodovias ou terrenos baldios. Araçá, uma goiabinha típica da Cidade que desapareceu, Guariroba e Sete Capotes – também da família das goiabas – estão entre as espécies do Cerrado Infinito do artista. Língua de tucano, marcela do campo, capim rabo de burro fazem parte da instalação. “A operação artística é uma colagem. Eu pego plantas pela Cidade e recomponho aqui em um cerrado imaginário e por ser imaginário ele é infinito. É para a gente pensar no assunto, entender que esse ambiente desapareceu”, explica o artista. Infinito também porque ele pretende continuar seu trabalho de plantio em outras praças da Cidade. A Praça da Nascente marca o início de sua obra.
Seus últimos trabalhos partiram de desenhos de observação. Ex-morador da Vila Romana, Caballero reside no Sumarezinho, próximo à praça. “Sempre abordei aspectos de uso do espaço urbano”, destaca ele. “Essa praça tem uma característica interessante, com algumas pedras que faz parte da geologia de São Paulo. Vi que esse lugar tinha característica de cerrado. O que aconteceu é que o coletivo Ocupe e Abrace e outras pessoas vieram e revitalizaram essa praça porque aqui é um lugar de nascentes. Escolhi esse lugar por causa das pedras e porque sei que aqui tem um ambiente favorável para receber as plantas.
Além do ponto de vista artístico da obra, a intervenção também tem o lado social – por agregar pessoas – e ambiental – com resgate e preservação de espécies da Cidade. “A ideia é criar uma intimidade e uma cultura do cerrado em São Paulo dos Campos de Piratininga (início da Cidade) que foi perdido”.
Em época de crise hídrica, Caballero explica que o cerrado é um guarda-chuva, um retentor de água.” Pelo fato de ter nascentes, estou curioso para ver se vai aumentar o fluxo de água. Isso vai levar alguns anos. A idéia é de ter uma cachoeira simbólica aqui na praça”, revela o artista.