Camas arrudas e jovens em sala de aula, comportados. Esse é um cenário que muitos nem imaginam encontrar num lugar que reúne centenas de adolescente que cometeram algum ato infracional, mas o que parece impossível acontece na Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente da Leopoldina.
O cenário inclui lençóis esticados e produtos de higiene pessoal – fornecidos pelo Estado para todos os internos – como sabonete e desodorante, que dividem espaço com fotos e porta-retratos de familiares ou namoradas, tudo organizado.
Se não fossem as grades no caminho até chegar ao alojamento, nem lembraria que o lugar é de recuperação de jovens que foram parar ali por um deslize, uma infração da Lei.
Josué Dantas, diretor da unidade, afirma que a fundação é diferente da antiga Febem. O regime de disciplina é rígido, sim, inclui atividades que preenchem todo o tempo da meninada. Melhor assim, não sobra espaço para pensamentos ruins.
Ao participar da última reunião do Conselho Comunitário de Segurança da Vila Leopoldina (Conseg Leopoldina), presidida por Jairo Glikson, o diretor da Casa Leopoldina propôs aproximação da comunidade com a instituição para ajudar da inserção dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em seu retorno à sociedade.
No início da semana, representantes das associações Amocity e Viva Leopoldina junto com o presidente dos Conseg Leopoldina e do Conseg Perdizes, Antonio Monteiro, foram conhecer as instalações da Casa Leopoldina, a realidade dos jovens e discutir a participação da sociedade civil no conselho gestor da unidade.
A responsabilidade de ser conselheiro é grande, pois quem se candidtar vai lidar com a vida dos meninos e auxiliar no seu melhor encaminhamento após sair dalí.
Os internos têm direito a escola (sala de aula de escola do Estado que é levada para dentro da instituição) e cursos profissionalizantes e culturais. Os olhos ficam atentos à aula logo pela manhã. Após o meio dia, almoço. Quatro deles se revezam na arrumação da mesa para as refeições. Quando chega o fim do mês todos passaram pela tarefa. As igrejas (católica e evangélica) também fazem trabalho religioso na Casa.
A unidade funciona como uma residência normal, onde os moradores tem que fazer a arrumação. Depois da aula e da refeição eles seguem para um dos cursos profissionalizantes ou culturais. Logo chega a hora do jantar, de noite sobra um tempo livre para jogar bola ou ler um livro da biblioteca que fica à disposição dos adolescentes. Muitos preferem a Bíblia e fazem dela o livro de cabeceira.
Alguns sonham em transformar o aprendizado dos cursos de culinária, artes e dança de rua da fundação em uma profissão quando deixar a unidade, mas a conquista da liberdade está nas mãos dos próprios adolescentes.
O prazo de internação pode chegar a três anos, mas depende do Plano Individual de Atendimento traçado (recuperação) e do comportamento de cada um deles. Quando ele cumpre as metas do Plano, um relatório conclusivo é levado ao juiz que analisa se ele está pronto para voltar para família e a sociedade. Se estiver, ele deixa a fundação. Quando o jovem atravessa o portão rumo à liberdade encontra barreiras para inserção na sociedade, muitas vezes na própria família e do mercado de trabalho.
A criação do conselho gestor será importante para que a comunidade ajude na inclusão desses jovens na sociedade, no mercado de trabalho ou em cursos para que tenham um futuro melhor. Na maioria das vezes, falta apenas uma oportunidade para evitar que o adolescente cometa um novo deslize e retorno a unidade de internação.