As calçadas viraram cama de cimento. A ocupação dos passeios por moradores em situação de rua cresce a cada dia na Cidade. Ali eles vivem e dormem. Além dos excluídos por desentendimento familiar, desilusão ou uso de drogas, a crise econômica, falência de empresas e o aumento do desemprego têm reflexos no crescimento da população de rua.
Das quase 16 mil pessoas em situação de rua da Cidade, mais de 400 ficam na área da Subprefeitura Lapa (segundo Censo de 2015). A maior concentração fica na Vila Leopoldina, basta observar o número de barracas no canteiro central da Avenida Gastão Vidigal, em frente à entrada da Ceagesp. A fartura de alimentos, a oferta de “bicos” e facilidade de encontrar drogas os mantêm no local.
A ocupação das calçadas prejudica os pedestres. Um conflito social se estabeleceu. Com a montagem de barracas sobre o passeio, crianças, estudantes, trabalhadores e moradores da região perderam o espaço das calçadas e dividem a rua com os carros, correndo risco de atropelamento.
O consumo de drogas nas ruas é outro problema que a comunidade assiste a cada passeio ou de sacadas dos novos condomínios. O consumo a qualquer hora do dia, na rua, é motivo de muitas reclamações.
As barracas do canteiro central da Gastão Vidigal têm mais visibilidade, mas o cenário mais triste fica escondido atrás do muro do portão 10 da Ceagesp. Quem quiser conhecer o que o uso de drogas (principalmente o crack) pode fazer com uma pessoa, basta circular pela Rua Ariovaldo Silva e Rua Manoel Bandeira, onde fica o trailer do programa de atendimento aos dependentes químicos.
Para o presidente da Associação Viva Leopoldina, Umberto de Campos Sarti, o bairro está em pleno processo de favelização, especialmente após a assinatura do decreto de inverno do Prefeito Haddad que impede qualquer tipo de ação que desestimule a ocupação de espaços públicos por cracolândias repletas de usuários de drogas. “Milhares de cidadãos encontram-se privados de se deslocar para seus trabalhos, Ceagesp e residências. Na Rua Dr. Avelino Chaves, crianças voltando da escola andam no meio da rua, pois temos calçadas ocupadas por barracos de usuários de drogas”, relata Sarti.
A Secretaria Municipal de desenvolvimento e Assistência Social afirma que faz a abordagem constante e oferece abrigo aos moradores de rua que recusam a vaga por diversos motivos. O programa federal “Crack é preciso vencer”, implantado pela gestão Haddad para combater o uso de droga na Leopoldina, não se revela um sucesso.
Daqui um mês e meio, a gestão Fernando Haddad chega ao fim. A missão de administrar a São Paulo será do prefeito eleito João Doria, que confiou a Secretaria de Desenvolvimento Social a vereadora Soninha Francine. Moradora da região e conhecedora das aflições das minorias e excluídos, Soninha quer mudar as regras dos albergues, dando maior flexibilidade de horário para atrair os moradores de rua. Sobre os dependentes de drogas, a futura secretária não acredita em atendimento de saúde que não tenha diagnóstico individualizado. Quem sabe, a futura secretária consiga substituir as camas de cimento dos excluídos por espaços mais adequados ao convívio e inclusão social.