Não nasci na Lapa, mas me envolvi com a região de uma forma muito mais profunda do que poderia imaginar. Quando mudei para cá gostei da atmosfera, das opções culturais e achei a proporção entre a parte residencial e comercial bem equilibrada. Mas somente quando comecei a trabalhar aqui no Jornal da Gente que um novo mundo se revelou para mim.
A Lapa com seus seis distritos, 40 km² e mais de 300 mil habitantes é uma verdadeira cidade, ou melhor, um microcosmo. Seja com as casas antigas e moradores ancestrais da Vila Anglo Brasileira, com os modernos condomínios que convivem com a necessidade de moradia social na Vila Leopoldina, as casas imponentes do Alto da Lapa, a efervescência intelectual e conflito de gerações em Perdizes, os crescentes eventos na Barra Funda e o forte trabalho comunitário desenvolvido na Jaguara e Jaguaré, andar pela Lapa é ficar fascinado com sua história, construções e, acima de tudo, com suas pessoas.
Eu que já trabalhei em diversas mídias e com pessoas de todo canto da cidade vejo o quanto os lapeanos são únicos. Porque apesar de fascinante, a Lapa também tem problemas. E não são poucos. Desde a necessidade de transporte nos bairros mais afastados, a falta de profissionais para atendimento nos equipamentos de saúde, insegurança e uso de drogas no entorno da Ceagesp, as árvores que sempre caem no período de chuvas, entre tantos outros que informamos na edição de cada semana.
Mas o grande diferencial é como as pessoas que moram na Lapa encaram seus problemas. Elas arregaçam as mangas e vão à luta, cobram o poder público e acompanham até que a resposta desejada seja alcançada. Se a desculpa é falta de recursos, se mobilizam para conseguir levantar fundos e trabalhar pelo bairro. Alguns lutam através de entidades e conselhos, outros fazem sua parte por conta própria. Se dizem que “uma andorinha só não faz verão” a Lapa é prova de que isso não é verdade, com vários casos de líderes que revolucionaram o bairro. Ser responsável pela Lapa não é fácil, não pelos problemas estruturais, sociais e ambientais presentes, mas pela constante vigilância que o povo apaixonado pelo seu bairro faz. E esperamos que sempre faça.
A Lapa é apenas um pouco mais jovem que a cidade de São Paulo, precisamente trinta e seis anos, mas tem histórias para compor uma verdadeira saga. São essas histórias que queremos trazer para os leitores, para que conheçam essas pessoas que lutam pela sua saúde, pelos seus parques, pela mobilidade nas ruas. É por elas que a Lapa tem tanto a comemorar em mais um ano de existência.