Os feriados como o da Páscoa, para além do significado religioso e oportunidade de passar um tempo em família ou viajar, são bons marcadores de tempo, para analisarmos o que mudou entre um ano e outro.
Infelizmente parece que muitas coisas se repetem e tantas outras aguardam solução, sem data para isso ocorrer. Para citar um exemplo, tivemos em maio do ano passado a paralisação dos caminhoneiros que chegou a deixar a Ceagesp irreconhecível, com boxes fechados e estacionamento vazio. Agora, outra greve pode ocorrer no final do mês por conta do aumento do preço do diesel. O ciclo se repete.
Outro tema que ano após ano se faz presente é o impacto causado pelos eventos realizados no Allianz Parque. Enquanto o Estádio Palestra Itália tinha uma capacidade para 27.650 pessoas, a arena de hoje comporta um público de 43.713 pessoas em dias de jogos de futebol e 55.000 em dias de shows e concertos. Moradores mais antigos defendem que o bairro não é adequado para receber esse público, equivalente a cidades como Campos do Jordão, Mongaguá e Tremembé.
A empresa WTorre Properties/Arenas, que administra e administrará o estádio durante 30 anos, fez um grande investimento para a sua construção. Mas para citar apenas o jogo de inauguração do Allianz Parque, realizado em novembro de 2014, a partida entre Palmeiras e Sport reuniu um público de 35.939 pagantes e teve uma receita líquida de R$ 3.623.234,67, ou seja, lucro. Esse valor não se repete em todos os jogos, mas não é difícil fazer as contas para saber que, com todas as partidas e shows de grande porte, como o do ex-Beatle Paul McCartney, realizado no mês passado, muito dinheiro está envolvido nos eventos.
Por isso, nada mais justo do que ouvir àqueles com quem se convive, os vizinhos. Se os consumidores estão cada vez mais atentos às origens dos produtos que consomem, pesquisando se fabricantes não estão envolvidos com trabalho escravo ou crimes ambientais, a empresa cuja renda provém de eventos deve estar atenta ao impacto causado por suas atividades. Dificilmente alguém se posicionará contra o esporte ou a música, mas cada partida de futebol e show são acompanhados por problemas como comércio irregular, lixo, brigas, dificuldade de acessar as residências, entre outros, frequentemente noticiados.
Com a criação do “Grupo Executivo Permanente Allianz Parque”, é esperado que organizadores de eventos, administradora da arena, órgãos públicos, agentes de segurança e moradores possam discutir juntos as ações estratégicas que poderão melhorar a convivência. Quem mora no bairro tem o direito de permanecer lá e viver com qualidade. Que na próxima Páscoa, as discussões sejam outras.