Descaso ou estratégia?

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É bastante grave a Prefeitura não ter mandado nenhum representante, pelo menos não de forma oficial, à audiência pública sobre o Hospital Sorocabana. Grave porque indica duas situações possíveis: um descaso total em relação ao que talvez seja a principal demanda de saúde da região, ou uma ação estratégica, impossibilitando algo fundamental da relação entre governo e munícipes, um diálogo transparente. É estranho também que só estiveram presentes os vereadores que pediram a audiência, enquanto outros, até da região, mandaram assessores. Nem parece que 2020 é ano eleitoral.

Desde o fechamento do Sorocabana a população cobra a existência de um hospital geral com leitos destinados ao SUS, o que não é nenhum absurdo considerando que temos mais de 300 mil habitantes, além das pessoas que trabalham e passam por aqui diariamente. Brigar por saúde pública de qualidade seria melhor, mas no momento é preciso lutar pela simples existência de um equipamento que faz falta. Como lembrado na audiência pelo conselheiro participativo Eduardo Mello, é muito descaso quando uma pessoa de idade, com dificuldades de se locomover, tenha um exame ou procedimento agendado em uma unidade de saúde de São Mateus, às 7h da manhã. Ainda, se ela depender de transporte público, uma simples consulta pode virar uma jornada.

Vamos voltar para abril deste ano, quando a Prefeitura anunciou a revisão do Programa de Metas. Entre elas está a de revitalizar unidades escolares, de saúde, de cultura e de esportes e lazer, com um aporte de R$ 946,6 milhões, e a de criar novos equipamentos de educação e saúde, com um valor de R$ 747,1 milhões. E isso foi anunciado antes do empréstimo do BID para o Projeto Avança Saúde. A Prefeitura sustenta o discurso de estar preocupada com a saúde da população, promete recursos e, por mais que existam deficiências em toda a cidade, nossa região não pode ser desprezada.

Por outro lado, se a ideia é realmente que não haja o debate, quais serão os planos para o terreno do Sorocabana? O representante do Estado anunciou na audiência que o governo considera doar o terreno e estrutura à Prefeitura, independente de receber em troca a área do Instituto Dante Pazzanese. É difícil acreditar que essa doação seja uma atitude altruísta do governo e seria muito interessante saber qual será a contrapartida. Também é estranho que em setembro, em uma reunião do João Doria, Bruno Covas e secretários, tenha sido anunciada a troca de terrenos, mas sem publicação no Diário Oficial.

Essa história já se prolonga há muito tempo. Precisa municipalizar o terreno, reformar o prédio e garantir a operação do hospital. Tudo isso é difícil. Mas, para começar, seria bom ter transparência dos nossos governantes.

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