Podemos citar duas distopias clássicas da literatura, aquelas sociedades ficcionais onde se vive em um estado de grande opressão: a de George Orwell, em 1984, e a de Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo. Para Orwell, o controle se dá pela proibição de livros, privação de informações e castigos, enquanto que para Huxley, o excesso de informações e lazer fazem com que as pessoas tornem-se passivas e desinteressadas em questionar seus governantes, e assim, igualmente controladas.
Felizmente vivemos em uma democracia. Podemos escolher nossos governantes, cobrá-los e até nos mobilizar para retirá-los do poder se assim for o desejado. Mas é grave o fato de ser possível reconhecer algumas características distópicas, aqui e agora.
Mesmo com mecanismos como a Lei da Transparência, nem sempre é fácil acompanhar os gastos públicos. As informações podem até estar disponíveis, mas precisa de certa prática para encontrá-las e extrair os dados desejados. Da mesma forma, conseguir uma resposta oficial pode ser complicado. É fácil receber os relatos de alguém que está indignado ou que se sentiu prejudicado em alguma situação. Mas ao questionar os responsáveis, sejam gestores, coordenadores, diretores ou secretários, sobre as causas do problema e o que será feito para remediá-lo, geralmente o que se recebe são respostas evasivas, promessas de averiguação ou o clássico repasse de responsabilidade para outro setor ou departamento.
Já em relação à participação, devemos agradecer pelo fato de que ainda existem espaços de participação popular. Alguns foram extintos, caso do CPOP (Conselho de Planejamento e Orçamento Participativos), mas temos conselhos gestores de equipamentos de saúde, e temos os conselhos participativos, com eleição no domingo (8).
É muito importante que as subprefeituras consigam reunir representantes de cada bairro, que vão ter contato com os responsáveis pelos variados serviços prestados e acompanhar se o orçamento está sendo aplicado nas coisas necessárias.
No caso da Lapa, tivemos menos candidatos do que vagas disponibilizadas. Sabe-se que todo mundo tem uma vida corrida, com trabalho, filhos e tarefas domésticas. Uma atividade que é voluntária e não remunerada acaba sendo deixada de lado, apesar de ser fundamental. Parabéns para quem se dispõe a dedicar seu precioso tempo para acompanhar a administração da nossa região. Quem não se candidatou pode se esforçar para uma vez por mês estar presente na reunião do conselho e, assim, fazer sua parte também. O esvaziamento dessas reuniões acaba tornando-se uma justificativa para sua extinção. Aproveitar toda forma de participação social é tão importante quanto votar de forma consciente.