Ausência de planos e consequências. Entrando nesta décima edição de um diário da quarentena parece não haver mais assunto para falar sobre tudo isso que estamos vivendo. Ao mesmo tempo que não faz sentido falar sobre qualquer outra coisa. Não dá para ignorar essa vida atípica que estamos levando. Ou que deveríamos estar, porque muitas pessoas não estão se comportando de forma adequada. Narizes para fora da máscara “porque incomoda” são uma cena diária. Em uma ida ao mercado, vi uma mulher utilizando um face shield, sem máscara por baixo, ou seja, completamente sem função já que a proteção plástica é aberta na parte de baixo.
Cada dia só se prorroga nossa expectativa de quando tudo isso vai acabar. E o pior, realmente não dá para saber. É preciso jogar com as cartas que temos, que no momento indicam a aproximação do colapso do sistema de saúde, endurecimento das medidas de restrição e custos econômicos e sociais difíceis de mensurar.
Estamos esgotados mentalmente e sem estômago para aguentar mais más notícias. E por falar em estômago, uma perda para os nossos é o fechamento da Vilinha, uma tradição da Vila Romana que não pode se manter. Espero que o futuro traga ventos melhores e que esse, assim como outros comércios, possam prosperar na região.
Saudades de estar com as pessoas que gostamos, de não ter medo de perder alguém e de quando a maior reclamação da semana era um problema de zeladoria.
O filósofo coreano Byung-Chul Han deu uma entrevista na semana passada para a agência espanhola de notícias EFE, onde tentou prever como será o mundo pós-pandemia. Vale a leitura, apesar do prognóstico não ser nada bom. A experiência com a Covid-19 é inédita para pessoas e governos. Mas a partir de agora, sempre teremos o medo de um novo vírus surgir. No mundo globalizado, com cidades verticalizadas que cresceram de forma desordenada, criamos a estrutura perfeita para os vírus se espalharem. Se o coronavírus despertou em nós o medo da morte, nossa ou das pessoas próximas, é igualmente assustador pensar em um futuro onde se vive décadas sem poder sair de casa, sem socializar, sem ter experiências. Ou então, imagine ter que viver dessa forma todo ano? Isso não pode acontecer, mas está fora do nosso controle impedir. Precisamos urgentemente de protocolos de ação que sejam efetivos caso uma pandemia aconteça de novo.
Como humanidade conseguimos superar cenários até piores, como as guerras, mas essa incerteza de quando tudo vai terminar está nos consumindo. Toda semana esperando novas medidas, novos pronunciamentos e recebendo novos prazos. Precisamos urgentemente de notícias boas.