O tempo de pandemia tem sido muito difícil, sobretudo para os pequenos comércios tradicionais do bairro, por mais qualidade que os produtos tenham. Um desses casos é o do Pedroso Camiseiro, localizado na Rua Camilo, uma loja de camisas feitas de forma totalmente artesanal e sob medida por Odiney Pedroso que neste sábado (1º) completa 90 anos. Nascido na Lapa, onde viveu toda a sua vida e criou sua família, Seu Pedroso estava desanimado com a queda no movimento por conta da quarentena. Não se tratava nem de uma questão de dinheiro, mas de exercer o ofício que tanto gosta e ao qual se dedicou por toda a vida.
Porém, esse período de ociosidade teve uma grande virada no sábado (25), quando Renato Dias, proprietário do Posto São Matheus encontrou Seu Pedroso e decidiu ajudar. Renato gravou um vídeo mostrando a camisaria e o trabalho do Seu Pedroso, que emocionado lamentou ter vendido apenas seis camisas em quatro meses. No vídeo, Seu Pedroso fala que nunca imaginou passar pelo que estava passando e que a camisaria é sua vida. Com a publicação no Instagram do posto que soma mais de 80 mil seguidores e em grupos do Facebook, o vídeo viralizou e obteve milhares de visualizações.
A partir de então o telefone não parou mais de tocar. Em apenas dois dias foram vendidas 50 camisas e na quinta-feira (30) todo o estoque da loja estava esgotado, além das diversas encomendas recebidas. Seu Pedroso e sua família ficaram até assustados com a repercussão e fama instantânea. “Ele não tem celular, não está acostumado com a tecnologia. Não esperávamos esse movimento todo. E ele quer trabalhar mantendo a qualidade do que sempre fez”, conta a neta Juliana Pedroso, enquanto a avó Edice orgulhosamente mostra uma das poucas camisas restantes na loja confeccionada pelo marido.
Na quinta-feira, além de uma equipe de TV, visitantes interessados em comprar camisas não paravam de chegar, tanto moradores da região como de outros bairros como Bom Retiro e Pirituba. Acompanhado da esposa, filha e netos, Seu Pedroso teve bastante ajuda para orientar o público e respeitar o distanciamento do lado de fora da pequena loja, que até então não tinha nem máquina de cartão, com pagamentos só em dinheiro. “Eu me coloco no lugar do Seu Pedroso porque eu também sou um pequeno comerciante. No posto que era do meu avô e funciona desde 1972 não temos bandeira, mas eu uso a tecnologia a meu favor. Quis ajudar dessa forma”, afirma Renato Dias, que desde a publicação do vídeo tem ido pessoalmente à camisaria para ajudar Seu Pedroso a recepcionar o grande público.
Muitas foram as propostas de doações também, mas essa não é a preocupação do Seu Pedroso. “Eu quero trabalhar e quero atender a todos direito. Não é o caso de chamar mais gente para trabalhar porque o que eu faço está aqui, nessas mãos”, afirma o Seu Pedroso que agora, com 90 anos, tem mais um motivo para celebrar: o reconhecimento do seu trabalho dedicado.