A espera

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O tempo é de fato relativo. Passa rápido quando fazemos algo que gostamos e devagar nas tarefas desagradáveis. Nesses últimos meses tivemos que readaptar nossa relação com o tempo. Deixar os encontros sociais de lado, esperar clientes e a receita que traziam voltarem, além de gastar preciosos minutos com o novo ritual de higienizar tudo que entra em casa. Hábito esse que provavelmente veio para ficar, independentemente de estar em curso uma pandemia.

De forma geral, é ruim esperar. É desagradável quando temos uma reunião com alguém e, sem um motivo justificável, a pessoa se atrasa. É ruim esperar nossa vez em filas de qualquer atendimento, como banco ou correio. Mas é terrível esperar que uma promessa de grande impacto em nossas vidas seja cumprida. E é isso que acontece com as famílias que há anos esperam sua moradia prometida da Operação Urbana Consorciada Água Branca (OUCAB). Isso também pode ser aplicado às comunidades do entorno da Ceagesp em relação ao PIU Leopoldina. Os moradores foram mobilizados, demonstram interesse no projeto, mas nada pode ser feito além de esperar.

Claro que com a pandemia, algumas discussões se fizeram mais urgentes do que outras, como o retorno presencial das aulas que tem sido amplamente discutido nas últimas semanas. Mas a crise escancarou como o problema de habitação é grave na cidade, com mais ocorrências da doença em famílias vulneráveis. Temos ainda o desemprego e não podemos esquecer que muitas famílias dependem da aposentadoria de parentes mais velhos, o maior grupo de risco do coronavírus.

No caso da OUCAB, o novo projeto de lei quer rever valores dos Cepacs, os títulos que as construtoras compram para poder construir mais. Esse dinheiro seria utilizado para o conjunto de obras da operação, entre elas as habitações de interesse social. Se antes, a proposta de revisar a lei era uma forma de fomentar um mercado que, convenhamos, tem bastante dinheiro, como é possível pensar nisso no cenário que vivemos hoje? Quando pessoas dependem de doações para se alimentar, perderam seus empregos ou precisam voltar a trabalhar e não têm com quem deixar as crianças? Sem contar que ainda por cima a arrecadação pode ser priorizada para outras intervenções, como a ponte que vai ligar Pirituba à Lapa. E para as moradias é preciso esperar.

Para piorar, estamos em ano eleitoral. Momento em que a disposição para dar andamento nos projetos parece maior. Isso é bom quando algo parado sai do papel, ruim quando algo que precisava de mais discussão é aprovado às pressas. É legítimo esse jogo político? Não sei, talvez seja inevitável. O que não podemos ter é a espera sem prazo de coisas prometidas.

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