Finalmente ela chegou, a tão esperada vacina. Mas ainda vivemos um clima político bastante hostil, uma epidemia de fake news e o surreal descrédito na ciência. Ao analisar o noticiário dos últimos dez ou quinze anos, e os próprios fatos noticiados, não dá para negar que foi inoculado na população brasileira o vírus da desconfiança. Os sintomas e consequências foram um sentimento quase irreversível de não acreditar em nada. A visão do cidadão médio é de que todos os políticos são corruptos, todos os contratos têm algum desvio de dinheiro, nada que é público tem qualidade. Apesar de termos exemplos mais do que suficientes para corroborar com essas afirmações, não podemos fazer essa generalização.
O mais grave é esse pensamento ter sido aplicado naquela que em sua essência é o contrário da especulação: a ciência. A ciência trabalha com fatos, com hipóteses testadas e comprovadas, com resultados concretos. É muito triste ver o Instituto Butantan, referência mundial no desenvolvimento de produtos biológicos, ter seu trabalho questionado. A pandemia aconteceu agora, há um governo vigente, mas o trabalho do Butantan é perene. Era realizado antes e continuará depois, independente da gestão de estado que for eleita.
Ao mesmo tempo em que ouvimos as teorias mais absurdas do que uma vacina poderia fazer com nossos corpos, agora que as doses estão aqui não faltaram espertinhos querendo passar na frente da lista de prioridades para a imunização. Foi com a vacina que erradicamos doenças como a varíola e poliomielite ou controlamos tantas outras como o sarampo e a tuberculose. O Brasil exporta vacinas para mais de 70 países e temos mais de 200 anos de experiência em seu uso. Para sua produção são feitos rigorosos testes de segurança e elas só são aprovadas e liberadas quando os benefícios superam os riscos.
Portanto, não deixemos nossa desconfiança endêmica atrapalhar aquilo que protegerá a nossa saúde e a de outras pessoas. O processo não será na velocidade que gostaríamos, mas estamos no caminho para poder voltar à vida que tínhamos antes, sem medo e restrições.
Por fim, não poderia deixar de falar sobre o aniversário de São Paulo, que na segunda-feira (25) completa 467 anos. Temos problemas por aqui, mas há mais do que o dobro de motivos apaixonantes para gostar dessa cidade. E cada um de nós tem sua própria atuação para tornar a cidade melhor, começando no bairro em que vivemos, com o envolvimento em questões ambientais, urbanísticas, de segurança, entre tantas outras que trazemos nas matérias que publicamos aqui semanalmente. Parabéns para a nossa terra, mais da tempestade do que da garoa, que é pulsante em vida.